Ausculta Cardíaca

Tradicionalmente na cardiologia temos fatos consagrados dentro dos pilares do exame físico como etapa fundamental na abordagem de pacientes, como os portadores de cardiopatia estrutural.

Uma dessas habilidades costuma representar simbolicamente a medicina e vem passando por questionamentos recentemente que é a ausculta cardíaca, pois diante do avanço dos métodos diagnósticos cada vez mais sensíveis, diversos profissionais vêm sistematicamente pulando essa etapa na sua formação e também na abordagem dos pacientes tão complexos.

Algumas publicações trazem dados preocupantes ao testar desde estudantes até especialistas, com os valores de acurácia diagnóstica do exame físico pautado na ausculta em índices muitas vezes insatisfatórios.

Um cardiologista especialista apresentava ao redor de 80% de acurácia na ausculta de valvopatias, em comparação com menos de 15% quando esse indivíduo era um estudante do meio da faculdade de medicina.

Médicos recém-formados e residentes não apresentavam valores acima de 50% também, apontando para uma limitação do exercício dessa habilidade fundamental no diagnóstico da cardiologia.

Em um corte transversal, também tem sido demonstrado que ao longo dos anos, a acurácia vem diminuindo em todas as classes de médicos, desde os em estágios iniciais de suas formações até os mais avançados e experientes.

Um aumento exponencial de conteúdo a ser absorvido pelo profissional aliado a um uso rotineiro de ultrassonografia poderiam justificar essa tendência a desqualificar a formação no exame físico, mas pensando racionalmente, não faz sentido que a melhora de determinadas habilidades venha a prejudicar outras.

É inegável que o exame físico bem feito é mais importante que muitos métodos diagnósticos outros e que ignorar esse passo importante é aumentar sobremaneira o risco de iatrogenias e interpretações equivocadas de laudos diagnósticos.

Alguns centros de formação têm dedicado uma boa parte do tempo de treinamento a melhorar o nível de acurácia do exame físico com ferramentas de simulação e inteligência artificial obtendo resultados interessantes.

Habilidades adequadas em exame físico podem não apenas identificar achados inocentes e evitar a necessidade de exames invasivos e caros, mas também podem apontar sinais de alarme que poderiam passar despercebidos evitando uma evolução desfavorável que estaria nos sinalizando claramente o seu risco.

Existem muitas estratégias validadas para o ensino do exame físico para profissionais de saúde utilizando ferramentas tecnológicas atuais, como módulos baseados na web, aulas multimídia, exames supervisionados por inteligência artificial melhorando a acurácia diagnóstica, simuladores e aplicativos móveis que utilizam técnicas de aprendizagem mais otimizadas.

Ao invés de desistirmos dessa ferramenta importante e validada há séculos, devemos utilizar a tecnologia existente não para suplantá-la, mas sim para melhorar o aprendizado e a acurácia diagnóstica como um copiloto ao médico padrão-ouro.