Doença Multivalvar

A doença multivalvar é a combinação de diversos desafios no mesmo paciente e, como de forma habitual, não consegue ser enquadrado de forma clara nos atuais guidelines.

É bem verdade que a última publicação do guideline europeu já traz alguns aspectos relativos a essa combinação de valvopatias, como por exemplo a indicação de intervenção em casos de dupla lesão balanceada na valva aórtica, já de grau moderado, ou seja, a presença de uma estenose aórtica moderada associada a uma insuficiência aórtica moderada já poderia indicar uma intervenção.

No entanto, a ampla possibilidade de sobrecargas e as variações de gravidade das valvopatias faz a abordagem a esse paciente um grande desafio para o Heart Team.

A associação entre estenose aórtica e insuficiência mitral é bem comum na prática diária, estando presente em até 40% dos indivíduos que vão para intervenção valvar aórtica.

É sabidamente um marcador de maior gravidade e com desfechos piores do que as lesões isoladas, mas a avaliação individual de cada valvopatia é bem complexa.

A abordagem intervencionista nesse contexto traz um dilema interessante. Em casos de abordagem transcateter, na literatura encontramos melhora da regurgitação mitral em mais de 50% nos casos de o paciente ser submetido a TAVI. E nos casos em que não há melhora, temos a chance de um reparo borda a borda em um momento posterior.

Essa é uma estratégia que não poderia ser usada em casos de cirurgia convencional, pois uma reabordagem um tempo depois agregaria muito risco, tendo que ambas as valvopatias serem corrigidas no mesmo momento cirúrgico.

A programação de abordagem nesses casos deve ser decidida em ambiente colegiado, colocando na mesa as possibilidades de resposta e estadiamentos plausíveis de abordagens.

Interessante ressaltar que ainda há espaço para pesquisas aprofundadas para trazer mais respostas para o debate. Estratégias para comparar uma possível abordagem transcateter conjunta em determinados casos ou mesmo abordagens híbridas com cirurgia convencional e suporte transcateter estão no horizonte e deverão receber atenção em breve.

O simples fato da progressão tecnológica em relação aos métodos de imagem já pode ser uma incrível ferramenta para melhorar essa estratificação e apoiar a tomada de decisão.

Ainda vale ressaltar que além de toda essa trama decisória que o Heart Team precisa percorrer, conceitos de life timing management também devem fazer parte do racional, pois no dia de amanhã esse paciente continua sua jornada e talvez você precise tomar novas decisões…