Cirurgia Cardíaca

Em diversos momentos abordamos aqui nessa plataforma os avanços inquestionáveis dos métodos diagnósticos e também das novas modalidades terapêuticas intervencionistas, mudando o paradigma da cardiopatia estrutural.

No entanto, um outro aspecto desse avanço tecnológico precisa ser pensado com atenção, visto estarmos em outro momento da abordagem desses pacientes.

Quando iniciaram as técnicas cirúrgicas convencionais, os desfechos esperados, embora melhores do que o acompanhamento clínico, eram relativamente modestos, mas se adequavam a uma realidade da época.

Quando falamos de reparo da valva mitral em pacientes com prolapso e degeneração mixomatosa, em meados da década 80 tínhamos apenas 50% de sucesso, enquanto no início dos anos 2000, já encontrávamos relatos de 99% de sucesso.

A maioria das publicações cirúrgicas acaba tendo como parte de seus recortes uma porcentagem grande de pacientes que foram abordados há mais de 30 anos o que traz números finais que não são mais compatíveis com a realidade dos grandes centros médicos para abordagem em cardiopatia estrutural.

Os diversos desfechos que podemos observar acabam sofrendo a mesma influência, pois temos sucesso no reparo cada vez melhor e também impacto em mortalidade superando os valores estimados pelos escores de risco cirúrgico tradicionais.

Também é necessário falar que o perfil dos pacientes sofreu alguma alteração, pois com cada vez uma abordagem mais precoce e métodos diagnósticos mais acurados, a abordagem tende a ser mais precisa e segura, em paralelo com o incremento tecnológico das técnicas e do treinamento do operador.

A comparação com abordagens percutâneas também é um fator que tem modificado a exigência de resultados em casos de abordagem convencional. Obviamente, no caso da valva mitral, o pareamento para entender claramente as potencialidades de cada técnica ainda é um desafio, visto serem coortes bem diferentes na grande maioria das vezes, mas resultados animadores na abordagem transcateter acabam elevando a régua de exigência das abordagens cirúrgicas e estamos vendo isso ocorrer na prática dos grandes centros.

É bem plausível que os dados hoje aceitos como esperados em determinadas abordagens sofram importantes revisões nos próximos anos, principalmente quando falamos de coortes específicas com prognóstico excelente, gerando novos benchmarks para a cirurgia cardíaca.

Além dos desfechos duros, entender outras abordagens clínicas como qualidade de vida, reinserção no dia a dia e acompanhamento clínico, estão compondo o que hoje chamamos como o novo padrão-ouro da cirurgia cardíaca.