Tricúspide Isolada

Vez ou outra temos abordado o tema de intervenção na regurgitação tricúspide com um viés das publicações mais volumosas sobre abordagem transcateter dessa valvopatia. No entanto, diversos serviços não dispõem desse tipo de tecnologia e a abordagem, quando indicada, deveria ser através de cirurgia convencional.

Aqui vivenciamos na prática uma série de desafios a serem superados que partem do entendimento adequado da lesão tricúspide, se funcional ou não e também do momento ideal de pensar na intervenção.

A etiologia funcional é, sem dúvidas, a principal quando falamos em dificuldade nos ambulatórios de cardiologia clínica. Ela, quando ocorre de forma isolada e tem um grau avançado pode ser a responsável por uma deterioração clínica importante.

É de conhecimento no mundo da cardiologia que, a cirurgia de insuficiência tricúspide é de alto risco, mas isso ocorre, predominantemente não por causa da lesão valvar em si, mas pelo status clínico e hemodinâmico que o paciente é referenciado para abordagem cirúrgica, muitas vezes fora do timing ideal.

Uma das formas de tentar ter uma impressão mais objetiva do quão avançada estaria a doença valvar do ponto de vista clínico é a utilização do TRI-escore que usa uma combinação de dados que traduzem danos cardíacos e órgãos secundários com o objetivo de tentar entender quais indivíduos se beneficiariam de uma intervenção de uma insuficiência tricúspide isolada.

Embora não muito utilizado na rotina clínica, a partir desse escore, pacientes considerados com baixa pontuação nesse escore, portanto, sem ter uma doença muito avançada se beneficiam da abordagem cirúrgica convencional, sendo reparo ou troca valvar. Os indivíduos com pontuação intermediária se beneficiam apenas do reparo, por ser, aparentemente, menos agressivo.

Alguns insights podem ser tirados após essas conclusões. Inicialmente vemos que abordagens antes de um ponto avançado da doença pode trazer benefícios, embora ainda não tenhamos precisão desse instante. A melhora técnica da abordagem pós-operatória também tem ajudado a melhorar os resultados cirúrgicos que, mesmo sendo algumas vezes de alto risco, tem uma chance maior de evolução positiva.

Grandes centros já conseguem resultados interessantes nessa abordagem com mortalidade abaixo dos 5%, o que para esse tipo de abordagem, são dados bem interessantes.

Em conclusão temos que a regurgitação tricúspide funcional não é uma doença benigna, a estratificação precisa do paciente faz o resultado cirúrgico refletir uma abordagem de menor risco e em casos muito avançados, a abordagem clínica parece ser a única alternativa viável, visto o timing ter sido perdido…