Ao longo da história da medicina moderna, vivenciamos momentos marcantes de transformação nos paradigmas de diagnóstico e tratamento de doenças. Exemplos emblemáticos incluem o início do uso da penicilina durante a Segunda Guerra Mundial e a descoberta da insulina para o tratamento do diabetes tipo 1, até então uma condição fatal. Esses avanços permitiram oferecer terapias eficazes para doenças antes intratáveis.
Desde o seu início em 1962, o manejo da valvopatia aórtica evoluiu significativamente graças ao aperfeiçoamento dos dispositivos e aprimoramento da técnica cirúrgica. No entanto, uma parcela expressiva da população com estenose aórtica importante sintomática não era contemplada, uma vez que idosos extremos, pacientes frágeis e pacientes com risco cirúrgico elevado eram considerados não candidatos à intervenção cirúrgica.
Em 2002, pela primeira vez, o médico francês Alain Cribier realizou um implante de bioprótese aórtica por via transcateter (TAVI) em um ser humano, um paciente de 56 anos com estenose aórtica grave e contraindicação cirúrgica, dando início a uma verdadeira revolução no tratamento desta valvopatia.
Inicialmente a TAVI estava destinada aos pacientes idosos de risco cirúrgico alto ou proibitivo. No entanto, com a melhoria da técnica, os avanços tecnológicos e evidências robustas de segurança e eficácia, a TAVI teve sua indicação estendida para pacientes idosos com baixo e intermediário riscos cirúrgicos. Em pacientes com idade avançada já é considerada preferível à cirurgia convencional.
O advento da TAVI representa uma das grandes revoluções da medicina contemporânea, alterando a história natural da estenose aórtica e oferecendo uma alternativa terapêutica segura a pacientes que antes não tinham opção. Contudo, como toda inovação, há o risco de adoção excessiva ou indiscriminada, substituindo abordagens cirúrgicas consagradas, com resultados historicamente confiáveis.
Com o objetivo de orientar de forma criteriosa a escolha entre a cirurgia convencional e a TAVI, o artigo “Which patients with aortic stenosis should be referred to surgery rather than transcatheter aortic valve implantation?”, publicado recentemente no European Heart Journal, fornece reflexões importantes.
O estudo destaca fatores anatômicos e clínicos que devem ser cuidadosamente considerados na tomada de decisão, entre eles: a calcificação excessiva dos folhetos valvares ou da via de saída do ventrículo esquerdo, distúrbios prévios de condução, especialmente o bloqueio de ramo direito, aorta horizontalizada, acesso femoral tortuoso ou calcificado. (Figura 1).
Esses fatores são preditores de desfechos menos favoráveis com TAVI. Em contrapartida, a morfologia bicúspide da válvula aórtica, anteriormente vista como um impeditivo, já não é considerada uma contraindicação absoluta ao procedimento transcateter.
A decisão terapêutica ideal exige a combinação de uma avaliação anatômica minuciosa, considerando as implicações técnicas de cada abordagem, e uma estratificação clínica individualizada, que leve em conta idade, comorbidades e fragilidade do paciente (Tabela 1).
Tendo em vista a durabilidade já comprovada da prótese cirúrgica, Diretrizes Internacionais recomendam a intervenção cirúrgica para paciente com menos de 65 anos ou com expectativa de vida superior a 20 anos. Reservando a TAVI para casos em que o risco cirúrgico seja elevado (STS > 8%) ou pacientes mais idosos (75 anos), esse último grupo, incluindo pacientes não apenas de alto risco, mas também médio e baixo risco.
Vivemos tempos de inovações tecnológicas, fácil acesso à informação médica e publicações nem sempre isentas de conflitos de interesse. Nesse cenário, o papel do profissional de saúde é manter-se atualizado e atuar de forma crítica e ética. A figura do especialista em valvopatias torna-se imprescindível para garantir que cada paciente receba a melhor terapêutica possível, de acordo com suas individualidades.
Literatura Sugerida:
1 – Windecker S, Okuno T, Unbehaun A, Mack M, Kapadia S, Falk V. Which patients with aortic stenosis should be referred to surgery rather than transcatheter aortic valve implantation? Eur Heart J. 2022 Aug 1;43(29):2729-2750.
Click Valvar Academy#646 – Comparando Técnicas na EAo
Confira o artigo completo
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |
Privacidade e cookies: Este site usa cookies. Ao continuar no site você concorda com o seu uso. Para saber mais, inclusive como controlar cookies, veja aqui: Política de cookie
As configurações de cookies deste site estão definidas para "permitir cookies" para oferecer a melhor experiência de navegação possível. Se você continuar a usar este site sem alterar as configurações de cookies ou clicar em "Aceitar" abaixo, estará concordando com isso.