Dapa no TAVI

Quando pensamos em intervenção em estenose aórtica, sempre temos em mente o modelo tradicional de indicar intervenção em qualquer valvopatia primária. Na vigência de uma lesão de grau importante, o próximo passo é pesquisar a sintomatologia e também o grau de repercussão hemodinâmica.

De forma geral é isso que norteia a indicação de intervenção na maioria dos casos, inclusive colocando esses perfis clínicos com maior evidência e graus de indicação.

Uma abordagem interessante foi publicada recentemente no congresso do American College desse ano sobre o aspecto de sintomatologia. Muitos colegas acabam não tendo esse grau de visão, mas a presença de dispneia ao esforço que pode ser manifestada em casos de estenose aórtica importante é sim um quadro de insuficiência cardíaca, mesmo que com fração de ejeção preservada.

Pode não ser habitual enxergarmos essa classificação de insuficiência cardíaca em patologias que são possivelmente revertidas ou mesmo controladas, mas conceitualmente teriam esse diagnóstico estabelecido.

Diante dessa situação, sabemos que determinadas classes medicamentosas têm se mostrado eficientes nesse contexto de insuficiência cardíaca, independente da fração de ejeção, o que, de fato, nunca havia sido testado numa coorte tão específica.

Sendo assim tentaram avaliar a prescrição de dapagliflozina em pacientes que seriam submetidos a TAVI, pesquisando o desfecho composto de mortalidade com agudização de uma insuficiência cardíaca.

Ao longo de 1 ano de acompanhamento, houve uma redução de 28% no risco relativo de encontrarmos o desfecho avaliado, o que está em consonância com resultados encontrados no uso da dapagliflozina em outras coortes.

Um dado interessante é a média de idade dos pacientes envolvidos nessa publicação. Tratava-se de pacientes em sua grande maioria octogenários e alguns nonagenários, trazendo também novos insights do uso da dapagliflozina nessa faixa etária.

Essa classe medicamentosa é conhecida por promover glicosúria e natriurese, o que tem seus efeitos hemodinâmicos em pré e pós-carga, mas também pode levar a repetidos quadros de infecção urinária e hipotensão, situações as vezes complexas em pacientes tão idosos como nessa coorte.

Um aspecto que não pode ser descartado aqui é a elevada prevalência de comorbidades nessa população o que, em diversos casos culmina em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, independente da valva aórtica estar ou não estenosada e isso pode ter sido um viés que interferiu nos resultados. Estaríamos tratando essas outras comorbidades e a valvopatia estaria em paralelo?

Enfim, é um trabalho interessante e traz dados animadores, mas ainda temos diversos pontos em aberto para entendermos os reais efeitos que parecem ser benéficos nessa coorte em específico para podermos trazer a dapagliflozina e os demais da classe para o arsenal terapêutico da estenose aórtica.