Dentro da cardiopatia estrutural, temos diversas formas de tentar avaliar e estratificar determinada doença. Por exemplo, podemos observar o gradiente transvalvar de determinada Valvopatia, ou mesmo a disfunção sistólica subclínica diante de determinada sobrecarga de volume causada por uma Valvopatia.
De forma geral, observamos as Valvopatias sobre primas de anatomia e funcionalidade. Ou observamos o comportamento hemodinâmico de determinada lesão, com gradientes, velocidades de fluxo, repercussão nas cavidades ou vamos diretamente para a anatomia, e observamos ruptura de folhetos, sua calcificação, sua mobilidade.
Quando olhamos a valva aórtica, podemos buscar os dados de gradiente e área valvar ou tentar ver o acometimento dos folhetos. Para essa última questão tínhamos a opinião do ecocardiografista experiente que posicionava a valva como tendo ou não muito cálcio ou mobilidade alterada.
Recentemente tivemos a aplicabilidade do escore de cálcio da valva aórtica, exame realizado através da tomografia do coração em um racional muito próximo da metodologia do escore de cálcio coronariano. Partimos do pressuposto que lesões avançadas tenham muito cálcio e por essa razão nos ajudaria a apontar para uma estenose aórtica importante.
Um dos pontos mais interessantes desse tipo de avaliação é obter uma leitura objetiva do grau da estenose aórtica independente de estados hemodinâmicos e variações de fluxos aórtico.
Aqui vale uma discussão fisiopatológica ainda não muito esclarecida. Sabemos que a valva aórtica perde mobilidade por calcificação, mas também por fibrose e o método em si teria uma determinada dificuldade de medir o grau de fibrose. No entanto, observando as diferenças entre padrões de calcificação entre homens e mulheres, pode-se notar que mulheres apresentam menos presença de cálcio para lesões mais avançadas, provavelmente por maior fibrose.
As tomografias mais atuais apresentam grande definição espacial, sendo capaz de aferir com precisão áreas fibrosadas e áreas fibrocalcificadas.
Com essa avaliação combinada entre fibrose e calcificação correlações mais próximas entre a anatomia da valva aórtica e o padrão hemodinâmico e gravidade da estenose aórtica tem sido alcançado, principalmente em mulheres, onde o componente fibrótico parece ser mais importante.
Além de avaliar com maior precisão a evolução da estenose aórtica, já que essa avaliação conjunta se mostrou um melhor preditor evolutivo do que apenas o escore de cálcio que usamos na prática, esse novo formato de método pode ser uma boa ferramenta para avaliar um tipo de paciente muito comum no nosso meio, mas que era deixado de lado no uso do escore de cálcio, o paciente reumático. Se é um método bom para ver fibrose também, pode ser uma excelente alternativa nessa coorte em específico.
Diante desses achados e dessa progressão, existe uma chance razoável de, em breve, termos nas diretrizes não apenas o escore de cálcio da valva aórtica, mas sim o escore de fibrocalcificação da valva aórtica. Avanços que podem mudar o nosso dia a dia como cardiologistas clínicos.