Desde que as discussões entre TAVI e cirurgia convencional vieram com maior relevância nas discussões clínicas, diversos aspectos foram colocados na mesa para defender cada técnica e seus riscos e benefícios.
Desde a necessidade de implante de marcapasso até desfechos mais graves como mortalidade, AVC e sangramentos graves são extremamente importantes na hora de decidir qual a melhor estratégia seguir em cada caso.
Um outro ponto, algumas vezes negligenciado no dia a dia do cardiologista clínico é o tempo de internação hospitalar.
O tempo de estada hospitalar está claramente correlacionado a desfechos negativos e elevação do risco de complicações infecciosas e alargar esse tempo de forma desnecessária apenas agrega risco sem grandes benefícios.
Quando comparamos os dois procedimentos, TAVI e cirurgia convencional, fica fácil entender as razões para termos essa balança favorável ao procedimento transcateter, visto que o tempo médio de internação hospitalar no TAVI fica ao redor de 3 dias, nos grandes Trials, enquanto o da cirurgia convencional, acima de 5 dias.
Recentemente, temos acompanhado uma grande tendência de tornar o TAVI um procedimento ainda menos invasivo, com as abordagens minimalistas, sem o uso da ecocardiografia transesofágica no procedimento e uma sedação consciente ao invés de anestesia geral com intubação orotraqueal.
Atualmente é considerada alta precoce nos casos de TAVI aquelas que ocorrem em menos de 3 dias de internação. Com o aumento dos casos de pacientes considerados de baixo risco cirúrgico, hospitais com maior demanda vem apresentando uma aproximação média desses valores, sinalizando para um aperfeiçoamento dos protocolos institucionais nesse sentido.
Interessante ressaltar que, em casos de complicações no procedimento, esse tempo médio de internação naturalmente se alarga, mas em até 25% dos casos, não havia uma explicação plausível para a internação hospitalar durar mais do que 3 dias, apontando para a possiblidade de melhora ainda nesse quesito.
O treinamento contínuo das equipes de saúde envolvidas, educação médica de qualidade e protocolos de avaliação da condução intraventricular parecem terem sido os pontos que mais impactaram na melhora do tempo de internação dos pacientes submetidos a TAVI.
O sexo feminino esteve mais relacionado a internações com maior duração, embora isso tenha provável correlação com uma maior taxa de complicações, principalmente hemorrágicas e de acesso vascular.
É extremamente importante ressaltar que os pacientes que receberam alta precoce e passaram por toda a avaliação sistemática necessária para essa conduta tiveram mortalidade e/ou necessidade de readmissão hospitalar semelhantes ao grupo que teve alta ao redor dos 3 dias de internação, sinalizando para ser a alta precoce uma estratégia segura.
Temos na literatura relatos de serviços hospitalares que conseguem realizar o TAVI como um procedimento de hospital dia, ou seja, paciente interna cedo pela manhã e recebe alta no final do dia, em caso de preencherem todos os requisitos de segurança e evolução clínica positiva.
Se isso vai ser uma realidade, ainda fica no campo da especulação, mas com o desenvolvimento de acessos vasculares ainda menores, com a possibilidade de uma abordagem via artéria radial, a possibilidade aumenta muito.
Casos selecionados, de baixo risco cirúrgico e com anatomia favorável já conseguem ser abordados e receberem alta em 2 dias, será que em breve teremos procedimentos em 1 dia? Se tivermos segurança, que mal tem?