Com o avanço dos métodos diagnósticos e as possibilidades de tratamento para diversos pacientes portadores de cardiopatia estrutural, uma série de novas condições clínicas foram trazidas para o debate e até mesmo correlações entre doenças tornaram-se conhecidas no dia a dia do cardiologista.
Recentemente, discutir amiloidose cardíaca passou a ser corriqueiro nos centros acadêmicos e até mesmo nas plataformas de ensino digitais em cardiologia, trazendo essa patologia para o centro do debate inúmeras vezes.
Dentro desse contexto, pacientes com estenose aórtica passaram a ser bem mais avaliados em busca de inúmeros achados que pudessem ou indicar uma intervenção em determinado momento ou mesmo estimar prognóstico evolutivo desses indivíduos.
Com esses métodos diagnósticos cada vez mais acurados, atualmente a associação de pacientes que tem estenose aórtica importante e também acometimento cardiológico da amiloidose parece estar na casa dos 15%.
Assim, a discussão se direciona para questões que poderiam colocar esses indivíduos como portadores de um pior prognóstico dentro do universo dos pacientes com estenose aórtica. Seriam pacientes considerados fúteis? Alguma técnica intervencionista se sobressai em relação a outra? Vejam que sempre que descobrimos algo na cardiologia, já surgem inúmeros outros questionamentos relevantes.
Antes a associação das doenças era mais frequente nos indivíduos portadores de estenose aórtica de baixo fluxo. No entanto, atualmente vemos que essa distribuição não é real, muito pela melhor estratificação dos portadores de estenose aórtica de gradiente elevado, coisa que não era feita rotineiramente antes.
Dados sobre mortalidade e complicações peri-procedimento se mostram semelhantes entre os indivíduos com as doenças concomitantes e com a estenose aórtica isolada quando são submetidos a TAVI, pois evitando o stress cirúrgico necessário na intervenção convencional, as repercussões da amiloidose parecem não serem tão importantes nesse momento.
Outro ponto cada vez mais em debate é que o envolvimento miocárdio pela amiloidose nos pacientes com estenose aórtica importante parece ser mais avançado do que os casos em geral, apontando para um tipo de “predisposição” aumentada de deposição de fibrilas.
Isso é tão pertinente que aparentemente pacientes que se submetem ao TAVI tem uma evolução do dano miocárdico mais pronunciada, como se tivesse sido retirado o gatilho de maior deposição.
De antemão já surgem questionamentos sobre um possível benefício do TAVI na estenose aórtica moderada e presença de amiloidose, interrompendo esse gatilho infiltrativo.
Diante de tudo isso, percebemos que por mais que a associação de estnose aórtica e amiloidose possa estar na mente do cardiologista atualmente, muito ainda se tem por aprender e investigar para descortinarmos as interações biológicas que essas duas patologias podem apresentar e mais, novas ferramentas terapêuticas em cenários ainda nem conhecidos na nossa prática clínica.