Quanto mais conhecemos das doenças dentro da cardiopatia estrutural, mais avançamos na identificação precoce de complicadores e desenvolvemos a capacidade de indicar de forma mais assertiva uma possível intervenção.
Há um certo tempo, convivemos com uma classificação funcional de estenose aórtica denominada classificação de Genereux em que o paciente com estenose aórtica é observado por um prisma de repercussão hemodinâmica. Quanto mais distante da valva aórtica, proximalmente, temos repercussão hemodinâmica, mais grave é o paciente e pior ele deve evoluir.
Por mais que os pacientes sejam categorizados em 5 grupos, ainda cabe a discussão se características particulares de cada repercussão não tenham pesos distintos da avaliação categórica, entre estágios de evolução.
Corroborando esses mesmos achados, pacientes que se submetem a intervenção e que revertem uma parte ou toda essa repercussão, em um processo denominado remodelamento reverso, apresentam maior sobrevida e melhor qualidade de vida.
Observando as coortes do PARTNER Trial, todos eles, de pacientes portadores de estenose aórtica importante com risco cirúrgico variável e que foram randomizados para cirurgia convencional ou TAVI, esses dados gerados na classificação de Genereux são validados clinicamente, como também se estabelecem como guia na busca de uma suposta prevenção secundária a ser lida no acompanhamento a longo prazo desses indivíduos, sob o prisma do remodelamento reverso.
Uma série de publicações recentes e Trials em andamento tentam melhorar ainda mais essa sensibilidade na estratificação, em que pacientes com estenose aórtica estão sendo encaminhados de forma mais precoce para intervenção, para avaliar se teremos impacto clínico relevante em evitar qualquer estágio evolutivo de Genereux.
Identificar o momento ideal para a intervenção é desafiador em todo o espectro da cardiopatia estrutural, particularmente quando se trata de uma troca valvar com implante de prótese biológica, que tem uma validade finita.
De fato consideramos a dilatação ventricular esquerda como um marcador para o momento da intervenção na insuficiência aórtica ou dilatação ventricular direita na disfunção tricúspide, identificar o impacto da anormalidade valvar através da sobrecargas na função cardíaca extravalvar é também crítica para determinar o momento ideal de intervenção.
Recentemente temos falado diversas vezes dessa melhor estratificação da doença valvar, embora os atuais guidelines ainda não incorporem essa prática de forma literal. No entanto, em ampla discussão de Heart Team, esses novos parâmetros e leituras de marcadores podem sim ser decisivos na conduta de casos complexos e desafiadores.