Insuficiência Mitral Funcional

Cada vez mais estamos observando uma leitura fisiopatológica de determinadas valvopatias incluindo aspectos do miocárdio. Isso passa a ser mais interessante de se aplicar no dia a dia clínico quando estamos diante de pacientes com valvopatias atrioventriculares funcionais, pois o binômio valva-miocárdio tem interação forte e que merece uma leitura conjunta.

Ao entendermos a lógica básica da fisiologia cardiovascular de que determinadas situações que possam elevar as pressões de enchimento do lado esquerdo possam interferir e repercutir no lado direito, interpretar uma regurgitação mitral pode ser um pouco mais complexo do que simplesmente observar dados ecocardiográficos de sua classificação.

A avaliação do lado direito passa pela estimativa da pressão da artéria pulmonar, grau de uma possível regurgitação tricúspide e, também da função sistólica do ventrículo direito.

Além do simples mecanismo de pressões de enchimento, fatores moleculares podem atuar também em casos de miocardiopatias não isquêmica acometendo o lado esquerdo e repercutindo do lado direito.

Em recente avaliação de uma coorte de pacientes portadores de insuficiência cardíaca com queda na fração de ejeção do ventrículo esquerdo, foi visto que o grau da insuficiência mitral funcional era um preditor independente correlacionado a disfunção sistólica do ventrículo direito.

Interessante ressaltar que o grau da disfunção sistólica do ventrículo esquerdo era correlacionado com o acometimento direito, mas o grau da regurgitação mitral também desempenhava seu papel nessa evolução negativa.

Valores de pressão de artéria pulmonar acompanhavam tanto a gravidade da disfunção sistólica do lado esquerdo, quanto o grau da regurgitação mitral.

Em alguns casos, não era encontrado valores elevados de pressão de artéria pulmonar, sinalizando para uma etiologia diferente da simples elevação das pressões de enchimento, mas que precisa ser melhor estudada.

Nos casos de valvopatia primária mitral, a fisiopatologia está fortemente relacionada à elevação das pressões de enchimento e ocorrência de hipertensão arterial pulmonar secundária sobrecarregando o lado direito.

Além do mais, entender esse acometimento simultâneo e muitas das vezes correlacionados, pode nos ajudar a melhorar o screening de pacientes para uma determinada intervenção ou mesmo otimizar o manejo clínico de casos mais sintomáticos e complexos.

Dessa forma interpretar esse tipo de paciente de forma mais ampla pode ser a chave para encontrarmos novos caminhos terapêuticos que melhorem a evolução clínica.