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Anatomia funcional – Parte II

O strain miocárdico é uma ferramenta que faz exatamente isso, ele decompõe a movimentação através da análise de deformação de cada segmento, nos dando a informação da quantidade e assim qualidade de contração em todos esses sentidos.

Trata-se de uma forma mais sensível de encontrar perda da função contrátil, mesmo antes de termos uma redução da fração de ejeção. Vamos a um exemplo, para tornar esse raciocínio prático.

Imaginemos uma sobrecarga como na estenose aórtica. Nessa situação, ocorre uma dificuldade de ejeção do sangue através da valva aórtica que não abre adequadamente (veremos adiante a fisiopatologia dessa sobrecarga em detalhes). Em casos muito avançados os mecanismos de compensação podem não ser mais suficientes para manter a estabilidade e inicia-se um processo de perda de função contrátil, mas ainda em estágio discreto.

Ao avaliar esse indivíduo pela ecocardiografia tradicional, encontramos uma medida de fração de ejeção de 62%, portanto normal. Mas ao realizar a avaliação através do strain longitudinal, ou seja, a avaliação da movimentação de encurtamento mais relacionado à contração das fibras do endocárdio, nota-se que esse valor já está reduzido.

Nesse ponto a informação que devemos ter é que já encontramos déficit na função sistólica, mas com fração de ejeção preservada. Algumas referências consideram isso como uma disfunção subclínica, pois essa queda no poder contrátil, sozinho não seria capaz de apresentar sintomas. No entanto, diversas publicações nos mostram que essa condição hemodinâmica já tem impacto negativo na sobrevida. Indivíduos com estenose aórtica importante e fração de ejeção preservada vivem mais do que àqueles com queda na fração de ejeção e mais, dentro dos indivíduos com preservação da fração de ejeção, aqueles com queda no strain longitudinal tem sobrevida pior do que aqueles com strain preservado.

Todos os padrões de strain podem ser avaliados na ecocardiografia, mas o longitudinal é o mais fácil de ser obtido e apresenta maior casuística de publicações com correlações clínicas, portanto, sendo o mais utilizado na prática diária.

Recentemente um outro padrão de strain foi analisado, também com as mesmas correlações clínicas, nos mostrando um outro movimento que o ventrículo realiza, totalizando assim 4 tipos de movimento. Trata-se do strain de torção.

Os segmentos basais do ventrículo apresentam movimentos longitudinal, radial e circunferencial e também uma rotação no sentido horário. De forma similar, os segmentos apicais têm todas essas movimentações, mas ele gira no sentido oposto, no sentido anti-horário. Assim, o ventrículo torce como uma toalha, dando ainda mais poder contrátil adicional aos três movimentos descritos anteriormente.

Literatura Sugerida:
1 – Bignoto, Tiago. Valve Basics – Valvopatia do Básico ao Avançado. 1ª ed. São Paulo: The Valve Club, 2021.

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