Abordagem Transcateter da Tricúspide

O CLASP trial inicialmente foi desenhado para avaliar resultados do uso do PASCAL, que é um dispositivo transcateter para correção da insuficiência mitral, muito semelhante ao famoso e mais difundido MitraClip. Ambos seguem a mesma ideia de fazer uma aproximação das bordas das cúspides, como na cirurgia de Alfieri, gerando uma valva em duplo orifício.

Pois bem, para quem gosta de ler mais sobre cardiopatia estrutural, já viram que esses dispositivos, o MitraClip e agora o PASCAL, poderiam ser usados na topografia da valva tricúspide.

E foi isso exatamente que esse CLASP TR avaliou, os resultados do PASCAL na correção transcateter da insuficiência tricúspide.

Com uma prevalência estimada em 2.4 milhões de indivíduos com regurgitação tricúspide nos Estados Unidos, atuais publicações trazem dados de até 10 mil cirurgias por ano com uma mortalidade intra-hospitalar ao redor de 10%.

E é um pouco daquilo que sempre discutimos, o tratamento clínico não difere muito do cirúrgico convencional, mas ambos têm resultados ruins a longo prazo.

Foi um trabalho prospectivo para avaliar a segurança e eficácia do PASCAL na intervenção transcatheter da insuficiência tricúspide. O desfecho primário foi um composto de eventos adversos maiores em 30 dias.

Foram 46 pacientes incluídos na análise com acompanhamento de 1 ano, chamando atenção para a idade com média de 77 anos, 55% mulheres e escores de risco cirúrgico intermediários, tanto o STS, quanto o EuroSCORE II. Quase 90% dos pacientes apresentavam o diagnóstico de fibrilação atrial, uma comorbidade muito associada a insuficiência tricúspide avançada.

Dados técnicos do procedimento nos mostram que houve uma taxa de sucesso do implante de 91%, sucesso do procedimento de 88% e sucesso clínico em 77%. Um dado muito interessante foi o tempo de internação hospitalar, sendo bem baixo, de 2,6 dias em média.

O número de dispositivos implantados para obter esses resultados variou basicamente entre 1 ou 2, o que é bem semelhante à topografia mitral.

Então sabendo da gravidade desses pacientes, entender os resultados trazem um certo otimismo com a técnica. Em 1 ano, 88% dos pacientes estavam vivos e em torno de 80% não necessitaram de nova internação por descompensação da IC.

Os dados ecocardiográficos corroboram esses achados. Em todos os casos houve melhora no grau da regurgitação, sendo que ao final de 1 ano, 75% dos casos tinham apresentado uma melhora de ao menos 2 classes de gravidade e 86% apresentaram regurgitação no máximo moderada.

Classe funcional seguiu a mesma tendência com 92% dos pacientes com NYHA I ou II, ou seja, considerados oligossintomáticos. Essa melhora também foi vista no questionário de qualidade de vida e no teste de caminhada de 6 minutos.

Então concluindo, o uso do PASCAL como alternativa terapêutica nesse grupo de pacientes se mostrou segura com redução do grau da regurgitação e boa resposta clínica e ecocardiografia. O acompanhamento segue até os 5 anos e veremos em breve novos resultados.

Será que vamos ver mudanças nas próximas diretrizes na abordagem transcatheter da insuficiência tricúspide? Ainda é cedo para falar, mas a tendência é que tenhamos boas evidências em breve.