O que mudou vertiginosamente são os resultados prognósticos que encontramos na gestão desses indivíduos.
Uma vez instituída a intervenção dentro dos primeiros 3 meses do diagnóstico, o impacto na sobrevida é substancial. A instituição de debates sobre tratamento precoce, possibilidade de realizar TAVI e conhecer os marcadores de gravidade tem sido fundamentais numa gestão eficiente para casos de estenose aórtica importante.
No entanto, mesmo com todo esse avanço tecnológico e de conhecimento, um dado negativo chama muito a atenção. Em centros desenvolvidos, como nos Estados Unidos, cerca de 40% dos indivíduos com diagnóstico de estenose aórtica de grau importante não são adequadamente encaminhados para intervenção.
Isso levanta um importante debate sobre a aplicabilidade de todo esse conhecimento e o real benefício populacional do tratamento da estenose aórtica, afinal ver a patologia, conhecer sobre ela e não intervir de forma adequada colocaria tudo a perder.
A mortalidade dos casos de estenose aórtica importante se mantém elevada em caso de não intervenção, 8% em 3 meses, ao redor de 20% ao ano e quase 100% em 5 anos, demonstrando a importância que deve ser tratada essa situação de subtratamento e com um relativo tempo escasso para atuar. Aqui o tempo para a tomada de decisão é crítica.
As razões para essa situação são diversas e devem ser compreendidas de acordo com cada centro. No Brasil, aparentemente o maior desafio parece ser no diagnóstico propriamente dito. Ainda nos falta conhecimento suficiente para entendermos a estenose aórtica, interpretar seus achados e seus exames diagnósticos.
Em centros mais desenvolvidos, talvez o ponto mais inflexível seja a compreensão da importância dos fatores complicadores frente a um paciente acompanhado clinicamente, mas que apresente suas limitações físicas, comum nos idosos. Outro ponto é o estigma de intervenção em idosos mais avançados ou em indivíduos considerados de maior risco cirúrgico, mesmo com a disponibilidade do TAVI, muitos desses casos são conduzidos clinicamente enquanto poderiam receber um tratamento intervencionista no momento mais adequado.
Mesmo que alguns casos, de fato não sejam reais candidatos à terapia intervencionista, seja por futilidade, ou por indisponibilidade local de determinado método de tratamento, todos deveriam ser encaminhados para uma ampla discussão de Heart Team, buscando a melhor solução para cada caso.
Assim chegamos a uma importante conclusão quando observamos a fisiopatologia da estenose aórtica frente a dados epidemiológicos. Avançamos muito no entendimento da doença, temos disponível muito conhecimento e formação de qualidade. Ainda falhamos em entregar esse conhecimento todo às equipes de saúde e cada região tem suas razões para essa falha estar acontecendo. Fora todo esse desafio, esclarecer os reais benefícios do tratamento e as suas alternativas parece ser o segundo degrau dessa escada que ainda estamos começando a subir rumo ao tratamento eficiente da estenose aórtica com real impacto global de sua mortalidade! Muito trabalho pela frente e difundir conhecimento é uma boa ferramenta para isso começar a acontecer.