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Desfechos Materno-fetais

O Impacto das biopróteses

Que coração de mãe é diferente, isso todo mundo sabe. Mas você sabia que há diferenças nos desfechos materno-fetais em gestantes com biopróteses valvares?

A condução de pacientes do sexo feminino em idade fértil com indicação de troca valvar pode ser desafiadora e deve ser, preferencialmente, compartilhada com uma equipe experiente e com a própria paciente. Escolher o tipo de prótese nesse perfil clínico é um tópico que divide opiniões, tanto pelas múltiplas variáveis envolvidas e suas consequências, quanto pela lacuna de evidências robustas para essa população.

Quando ponderamos entre o desempenho hemodinâmico e a durabilidade a longo prazo, as próteses mecânicas chamam atenção por sua durabilidade maior. Porém, trazem consigo a necessidade de anticoagulação com potenciais tromboembólico, hemorrágico e teratogênico significativos. Mesmo que as biopróteses apresentem durabilidade inferior, necessitando de reabordagem em intervalos menores, as diretrizes recomendam o uso destas para mulheres em idade fértil sem prole constituída.

Deve-se levar em conta que a taxa de deterioração de próteses tende a ser ainda maior em pacientes jovens, devido à maior demanda funcional e atividade do sistema imune. Outro fator que parece influenciar diretamente no tempo entre o implante e necessidade de reabordagem é a posição da prótese. Dispositivos do lado direito do coração estão submetidos a uma circulação de baixa pressão, podendo ter duração média de até 5 anos a mais quando comparados às próteses de valva aórtica e mitral.

Nesse contexto, uma coorte realizada em dois centros de referência Canadenses demonstrou que gestantes com valvas incompetentes possuíram maior chance de desenvolver disfunção ventricular, arritmias supraventriculares e ventriculares, tromboembolismo cardíaco, AVC e óbito. Os desfechos fetais também não se mostraram favoráveis, com maior ocorrência de morte fetal e neonatal, partos prematuros, ocorrência de bebês PIG, síndrome do desconforto respiratório e hemorragia intraventricular.

Um dado interessante foi a diferença de desfechos materno-fetais observada em pacientes com próteses de valva tricúspide e pulmonar de acordo com a funcionalidade do dispositivo. A deterioração estrutural da prótese não impactou de forma significativa a taxa de eventos, sugerindo que alterações na dinâmica da circulação direita são bem toleradas na gestação.

Na outra ponta, a disfunção de próteses mitral e aórtica foi um claro preditor de eventos adversos, com incidência de eventos mais de 4 vezes maior em comparação com o grupo de disfunção contralateral. Isso se deve, possivelmente, à capacidade limitada que gestantes possuem em tolerar as alterações hemodinâmicas da gravidez no contexto de lesões obstrutivas ou regurgitantes do lado esquerdo.

Deve-se ressaltar que a escassez de estudos que amparem a decisão clínica nesse perfil de paciente é acentuada para a realidade nacional. A maioria dos trabalhos publicados foi realizada com amostras populacionais cuja maioria das intervenções foi direcionada à valvopatias direitas, em que a principal indicação foi a correção de cardiopatias congênitas. A nível nacional, sabemos que a doença reumática configura quase a totalidade dos casos de intervenção valvar na população feminina jovem, e que nesse contexto, salvo raras exceções, a intervenção se restringe às valvas esquerdas.

Assim, ressalta-se a importância de um aconselhamento pré-concepção para mulheres jovens com planejamento reprodutivo, com exposição clara acerca dos riscos da gestação. Deve ser destacado que, em algumas pacientes com disfunção valvar considerável, a troca da valva deve ser realizada antes da concepção e que estas precisarão de acompanhamento clínico estreito, com ecocardiogramas frequentes durante o período da gravidez.

Além disso, é necessário orientar que o plano de parto será realizado levando em consideração o diagnóstico cardíaco e a gravidade do quadro valvar, além da indicação absoluta de realização do parto em centros obstétricos especializados e com experiência em cardiopatias.

Literatura Sugerida: 

1 – Wichert-Schmitt B, Grewal J, Malinowski AK, Pfaller B, Losenno KL, Kiess MC, et al. Outcomes of Pregnancy in Women With Bioprosthetic Heart Valves With or Without Valve Dysfunction. Journal of the American College of Cardiology. 2022 Nov;80(21):2014–24.

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