Dispositivos de Nova Geração

Um dos pontos que sempre abordamos aqui é o fato de que temos grandes avanços tecnológicos tanto nos métodos diagnósticos, quanto nos dispositivos intervencionistas e suas técnicas.

Já não é novidade o uso do strain miocárdico em busca do diagnóstico mais sensível de uma disfunção sistólica ainda subclínica e diversas vezes falamos que os resultados atuais das intervenções transcateter passam muito pela evolução dos dispositivos que reduzem as complicações e melhoram os aspectos hemodinâmicos de performance.

A questão é que essas frases parecem muito aleatórias e sem um embasamento palpável para que possamos entender exatamente como que essa evolução se da. Quando ela ocorre com a descoberta de um novo método, parece mais simples compreender, mas e em casos de novas gerações de dispositivos?

Recentemente o dispositivo de clipagem borda a bora mitral PASCAL passou por algumas atualizações que tem sido examinadas a luz dos resultados evolutivos.

Avaliando um registro de pacientes submetidos ao tratamento da insuficiência mitral com esse dispositivo, conseguimos observar como que novas versões se comportam em uma população de mundo real.

A nova versão do dispositivo apresenta um melhor resultado quando avaliamos a regurgitação residual, com mais pacientes estando com menos de 1 cruz na alta hospitalar, chegando a mais e 75% dos casos.

A segurança do dispositivo, avaliado pelos critérios do MVARC permanecem altas, mostrando que não houve prejuízo nesse aspecto, mas um ponto ainda merece melhor investigação. Evolutivamente houve um aumento percentual de progressão da regurgitação residual, quando comparado com a versão anterior do dispositivo.

Vendo o que foi divulgado, basicamente houve incrementos no sistema de liberação sendo mais preciso e uma série de pontos de evolução técnica, mas quando postos a prova é que realmente podemos levar essas questões técnicas para o dia a dia.

Obviamente não conseguimos ainda entender a razão para essa aparente piora funcional do reparo ao longo da evolução, mas pode ter sido ocasionado pela seleção de casos cada vez mais complexos, embasados na confiança de ter à disposição dispositivos mais estáveis.

Esse é um ponto interessante que todo médico deve estimular em seu raciocínio fisiopatológico e, principalmente, na hora de se comprar uma ideia. Toda a evolução tecnológica inegavelmente é bem-vinda, mas entender o que realmente faz a diferença no dia a dia para o paciente é fundamental. Não adianta ter toda uma justificativa das razões de determinados avanços se, diante da luz científica não se mostra tão positivo assim

Vemos claramente melhoras nos dispositivos, resultados cada vez mais robustos e com complicações cada vez mais raras, mas se aprofundar nesses discursos pode, em algum momento ser perigoso e não trazer conteúdo real.

Esse é um exemplo claro. Houve melhora dos resultados imediatos e sabemos o impacto positivo disso. Também vemos um declínio discreto dos resultados ao longo dos anos. Já sabemos a razão? Não, mas sabemos que precisamos analisar cientificamente para poder entender quais os pacientes se beneficiariam mais da tecnologia e melhorar nosso processo de decisão terapêutica.