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Fila de Espera Cirúrgica

Impacto na Mortalidade

Todos que acompanham a Cardiologia e, principalmente a cardiopatia estrutural sabem que o tratamento intervencionista nas valvopatias é comprovadamente positivo na curva de mortalidade dos pacientes com lesões importantes e presença de sintomas. Isso pode ser evidenciado na história natural da estenose aórtica.

Pacientes com estenose aórtica importante e presença de sintomas tem evolução desfavorável caso não se submetam a troca valvar cirúrgica convencional ou TAVI em caso de determinada indicação.

Mas no Brasil, temos uma situação peculiar quando avaliamos o tratamento oferecido pelo SUS. Não é incomum ouvir nos ambulatórios públicos de valvopatias a famosa frase “coloca na fila cirúrgica”. Claro que esse é o caminho único a ser adotado em serviços de alta demanda e que, infelizmente, lidam com a escassez de verba pública para o tratamento de sua patologia. Nesse caso, os pacientes são alocados em uma fila organizada por tempo e são chamados para determinado procedimento de tempos em tempos, de acordo com a verba e vaga disponível.

Durante a pandemia do COVID-19 isso ainda tornou-se mais dramático com os serviços considerados eletivos sendo suspensos por completo durante alguns meses.

Qual seria o real impacto dessa espera sistemática sobre a mortalidade desses pacientes que, quando são incluídos nessa fila, já apresentam clara indicação de intervenção?

Algumas publicações referem que a mortalidade na fila cirúrgica de estenose aórtica pode se elevar em 10 a 14% por causa da espera. Outro dado muito interessante é que, em pacientes de alto risco cirúrgico, o TAVI apresenta menos complicações do que o procedimento convencional e isso é difusamente publicado. Mas em caso de espera de mais de 60 dias na fila de uma possível TAVI, aparentemente o benefício dessa técnica específica sobre a cirurgia convencional se perderia, com equiparação dos desfechos negativos.

No Canadá, país com infraestrutura bem superior ao Brasil quando falamos em acesso a tratamento da estenose aórtica, o atraso na fila de TAVI em 90 dias pode causar elevação da mortalidade em 2% e hospitalização por descompensação de insuficiência cardíaca em 12%. Vale ressaltar que essa publicação não conseguiu identificar uma data limite de espera que fosse relativamente segura.

Se fizermos um paralelo com os serviços de maior demanda nacional, o TAVI não é uma terapia difusamente liberada, visto estarmos falando dessa liberação pelo SUS no próximo ano. Mas pensando em intervenção cirúrgica convencional, não é raro ouvirmos tempos de fila girando acima de 12 meses… Como será essa mortalidade?

E ainda não pensamos em avaliar qualidade de vida e demais impactos psicossociais nessa espera, bem como impacto em seguridade social de pacientes afastados de suas atividades laborativas.

O objetivo dessa publicação não é simplesmente atirar pedras no serviço de saúde, mas alertar para mais uma variável que pode ser decisiva no desfecho do paciente. Uma realidade complexa e que está longe de ter uma solução única.

Literatura Sugerida: 

1 – Elbaz-Greener G, Masih S, Fang J, et al. Temporal Trends and Clinical Consequences of Wait Times for Transcatheter Aortic Valve Replacement: A Population-Based Study. Circulation. 2018 Jul 31;138(5):483-493.

 

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