Vivemos um momento na Medicina muito interessante e que merece atenção e interpretação cuidadosa. Não é incomum vermos grandes mestres com vasta experiência clínica se valendo da famosa Medicina baseada em Evidências para poder alinhar seu raciocínio fisiopatológico com os desfechos comprovados por força estatística.
Também estamos acompanhando um modelo de gestão hospitalar de assistência padronizado, com o intuito de uniformizar condutas e trazer um serviço de saúde melhor ao usuário, no caso o paciente.
Não entrando no mérito da questão em si desses modelos de gestão, mas tentando extrair o impacto clínico disso, vemos nessa direção uma publicação muito interessante sobre um quase guideline americano sobre performance e qualidade na assistência do paciente portador de cardiopatia estrutural, centrado na doença valvar.
Esse documento se baseia em aspectos interessantes sobre as condutas frente a esses indivíduos para alinhar o que seriam diretivas institucionais em um futuro próximo.
As medidas denominadas de desempenho, basicamente avaliam se os serviços estão conseguindo tomar condutas classe I em seus pacientes, como introduzir anticoagulação oral em portadores de próteses mecânicas, indicar intervenção em portadores de valvopatias importantes e presença de sintomas, enfim, tudo aquilo que vemos nas diretrizes como classe I.
Já as medidas denominadas de qualidade, avaliam outras condições mais direcionadas ao screening e acompanhamento desses indivíduos, como uma adequada documentação das discussões de Heart Team institucional, acompanhamento ecocardiográfico após uma troca valvar, controle dos fatores de risco cardiovasculares nos pacientes já tratados cirurgicamente e também aspectos mais específicos das recomendações, como indicação de TAVI nos indivíduos que tenham estenose aórtica importante, sintomática e de alto risco cirúrgico ou acima de 80 anos.
Estas medidas são projetadas para orientar práticas clínicas em ambientes ambulatoriais e hospitalares, promovendo uma abordagem padronizada e baseada em evidências para o diagnóstico, monitoramento e tratamento.
Embora baseadas em evidências fortes, essas diretivas ainda não estão prontas para relatórios públicos ou programas de pagamento por desempenho, imaginando melhorar tickets de repasse hospitalar para serviços que performem melhor. Elas são úteis para revisões internas e melhorias de qualidade, como a documentação de riscos e discussões de equipe multidisciplinar antes de procedimentos intervencionistas valvares.
Em uma realidade da utilização de dados amplos desses pacientes e a incorporação de algoritmos de inteligência artificial, padronizar esses marcadores de performance pode ser um caminho promissor na melhora da assistência, incorporando ao Heart Team ainda mais assertividade, o que caminha na direção exata do que vemos em outras áreas e parece ter dado muito certo.