Manejo Contemporâneo
A insuficiência aórtica – também conhecida como “a valvopatia em que tudo pulsa” – é uma patologia de grande importância no cenário médico-acadêmico. Com uma semiologia rica e instigante, entusiasma até os menos entusiastas da disciplina de cardiologia. Os múltiplos epônimos e a busca incessante em procurar “algo” pulsando pode trazer curiosidade aos aprendizes ou render belas imagens nos “rounds” das enfermarias.
Etiologicamente, pode-se apresentar de forma primária (distúrbio intrínseco do arcabouço valvar) ou secundária a alterações estruturais do local em que a valva está inserida.
Nos países desenvolvidos, as principais etiologias primárias são a forma degenerativa ou a valva bicúspide. Já em países subdesenvolvidos ganha destaque a etiologia reumática.
Vale lembrar conceitos anatômicos relacionados à valva aórtica. A valva está alocada entre o ventrículo esquerdo e a raiz da aorta, portanto sujeita a dilatações da aorta.
O ecocardiograma é o exame-chave para delinear múltiplos aspectos relacionados à valvopatia e às suas possíveis complicações. Tecnologias mais recentes, com a aplicação de strain ou da ecocardiografia 3D podem trazer dados relevantes no detalhamento do acometimento valvar e de suas repercussões.
Mas… e sobre a intervenção? Quando devemos abordar a insuficiência aórtica?
Quanto a isso, o Colégio Europeu apresentou em 2021 suas recomendações mais recentes, que passamos a detalhar:
A insuficiência aórtica aguda pode exigir cirurgia urgente. As recomendações sobre indicações de cirurgia na insuficiência aórtica grave estão relacionadas sobretudo à sintomatologia exuberante e ao estado do ventrículo esquerdo.
Em pacientes sintomáticos, a cirurgia é recomendada independentemente da FEVE, desde que a regurgitação aórtica seja grave e o risco operatório não seja proibitivo. Além disso, a cirurgia é recomendada em pacientes sintomáticos e assintomáticos com insuficiência aórtica grave e que serão submetidos a cirurgia de outra patologia, como revascularização do miocárdio, cirurgia de aorta ascendente ou intervenção em outra valva.
Em pacientes assintomáticos com insuficiência aórtica grave, o comprometimento da função do VE (FEVE ≤50% ou diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo (DSVE) >25 mm/m2) está associado a pior prognóstico e a cirurgia deve, portanto, ser indicada. Em pacientes que não atingem os limiares para cirurgia, acompanhamento próximo é necessário, e o teste de esforço deve ser realizado livremente para identificar pacientes sintomáticos limítrofes. TAVI pode ser considerada para pacientes com insuficiência aórtica e inelegíveis para SAVR.
Quando falamos do tratamento farmacológico da insuficiência aórtica, IECAs ou dihidropiridínicos podem proporcionar melhora sintomática em indivíduos com regurgitação, em que a cirurgia não é viável. Em pacientes submetidos à cirurgia, mas que continuam a sofrer de insuficiência cardíaca ou hipertensão, IECAs, BRAs e betabloqueadores são úteis.
Por fim, é importante que todos os pacientes com insuficiência aórtica grave, mas que permanecem assintomáticos e com função ventricular esquerda preservada, devem ter um follow-up cuidadoso com avaliações em períodos máximos de 1 ano.
Literatura Sugerida:
1 – Vahanian A, Beyersdorf F, Praz F, et al; ESC/EACTS Scientific Document Group. 2021 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. Eur Heart J. 2022 Feb 12;43(7):561-632.
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