Leak Paravalvar
Já pensou em quando e como intervir?
Já pensou em quando e como intervir?
O aparecimento de Leak paravalvar, ou refluxo paraprotético não é incomum na prática clínica, mas na grande maioria das vezes é graduado como discreto, sendo, portanto, subclínico, não apresentando impacto na morbimortalidade.
Apenas 3% dos pacientes que apresentam essa complicação evoluem com sintomas de IC e/ou de hemólise necessitando de intervenção. Basicamente existem 3 motivos para se pensar em intervir em um Leak:
A indicação de intervenção nesse grupo de pacientes é complexa, pois na maioria das vezes, trata-se de paciente com gravidade aumentada, elevados riscos cirúrgicos devido a intervenções prévias e o pior, muitos dos pacientes que se submetem a correção podem evoluir com novo Leak.
Um estudo interessante conduzido na Mayo Clinic em 2017 comparou os desfechos a curto e longo prazos comparando pacientes que apresentavam Leak com indicação de intervenção e se submetiam ou a reparo percutâneo ou a cirurgia convencional.
De forma resumida, foi visto que pacientes, principalmente com maior gravidade, poderiam ser submetidos a tentativa de reparação percutânea, respeitando-se as limitações anatômicas (Leak > 25% do anel valvar, múltiplos Leak’s, difícil acesso pelos cateteres, etc.) e clínicas (endocardite ativa, prótese degenerada, etc.). O tratamento cirúrgico convencional traz maior taxa de obliteração do Leak, mas está associado a maior morbimortalidade.
Em geral, nos casos mais graves, pode-se tentar inicialmente o reparo percutâneo e em caso de insucesso, pode-se proceder nova tentativa (em até 50% isso ocorreu no referido estudo, tendo sucesso apenas em 70%). Após esgotarem-se as alternativas, discute-se a indicação de cirurgia convencional.
Interessante ressaltar que, para aqueles que apresentaram sucesso no procedimento (percutâneo ou cirúrgico), não houve diferente na mortalidade a longo prazo, mesmo sendo os grupos diferentes entre si. Apenas doença renal crônica, endocardite infecciosa ativa e doença mitral associada foram relacionadas a mortalidade a longo prazo.
Criam-se alguns apontamentos:
Não existem atualmente dispositivos específicos para esse tratamento percutâneo. São utilizadas próteses para fechamento de CIA (os famosos Amplatzer®)
O sucesso da correção percutânea está intimamente relacionado às características anatômicas do Leak, bem como tipo de prótese e sua localização (posição aórtica costuma ter melhores resultados), que devem ser muito bem avaliadas por um ecocardiograma transesofágico 3D realizado por médico experiente. Na correção, pode-se adotar a via de acesso transapical ou transeptal, escolhidas individualmente caso a caso.
Muitas vezes uma correção percutânea ocorre com sucesso, mas após alguns meses a prótese se desloca e o paciente volta a apresentar sintomas. Também pode ocorrer uma flutuação no grau da hemólise, com períodos mais intensos e mais sintomáticos. O ideal é manter o controle com os seguintes exames laboratoriais:
Anéis muito calcificados ou friáveis por diversas manipulações ou história de endocardite prévia, em geral evoluem com recidiva do quadro, independente se feito correção tradicional ou percutânea.
A decisão de qual procedimento realizar, portanto, deve ser feito após minuciosa análise do Heart Team institucional, avaliando-se os riscos do paciente e a experiência das equipes intervencionistas a disposição.
Literatura recomendada
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2 Comments
Situação cada vez mais presente, excelente resumo, parabéns ao editor.
Obrigado Dra. Nisia! Pacientes assim costumam ser um desafio.