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Monitoramento móvel pós-TAVI

Detecção de bloqueios cardíacos

A substituição valvar aórtica por via transcateter (TAVI) consolidou-se como tratamento padrão para pacientes com estenose aórtica grave, inicialmente restrita a casos de alto risco cirúrgico, mas hoje expandida para populações de risco moderado e até baixo risco. Contudo, a elevada incidência de distúrbios de condução cardíaca no pós-operatório imediato e tardio continua a impor desafios clínicos significativos, com impacto direto na necessidade de marcapasso definitivo (MPD) e em hospitalizações precoces.

Nesse contexto, há a tentativa de uma validação de uma estratégia de monitoramento remoto baseada em eletrocardiografia digital móvel intermitente (AeECG), utilizando o dispositivo KardiaMobile 6L, durante 30 dias após TAVI, com o objetivo de detectar distúrbios de condução tardios com indicação de MPD.

Trata-se de um estudo prospectivo unicêntrico em que 100 pacientes submetidos à TAVI foram monitorados ambulatorialmente com gravações de 30 segundos pelo KardiaMobile 6L, diariamente na primeira semana e semanalmente nas três subsequentes. Foram excluídos pacientes já portadores de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEIs) e aqueles que não completaram a fase de treinamento com o dispositivo.

Durante o seguimento, 8% dos pacientes apresentaram distúrbios de condução com indicação Classe I ou IIa para MPD, sendo o tempo mediano de detecção de 6 dias após o procedimento. A análise multivariada identificou o intervalo PR no ECG da alta hospitalar como único preditor independente para MPD tardio (OR 1,04; IC 95%: 1,01–1,07; p = 0,04) [1].

A adesão ao protocolo de AeECG foi alta (96,5%), com 98,4% dos registros considerados de qualidade diagnóstica satisfatória. Nenhum evento clínico adverso relacionado a distúrbios de condução foi relatado durante o período de observação.

Figura 1. Fluxograma de inclusão dos pacientes, cronograma de eECG e incidência de MPD tardio

O KardiaMobile 6L mostrou-se eficaz para registros de ECG de seis derivações com duração de 30 segundos, identificando alterações compatíveis com bloqueios de ramo, bloqueios atrioventriculares (BAV) e alterações na duração do QRS. A ampla aceitação do dispositivo pelos pacientes, mesmo em uma população idosa (idade média: 81,8 anos), aliada ao baixo custo e facilidade de uso, reforça o potencial dessa abordagem no manejo pós-TAVI.

Embora não proporcione vigilância contínua, o estudo comprova a eficácia dessa modalidade para detecção precoce de eventos relevantes, aliando segurança clínica e excelente adesão dos pacientes. Estudos anteriores já demonstraram a associação entre alargamento do PR e QRS no pós-TAVI e a necessidade subsequente de MPD.

Figura 2: Exemplos de eECG com bloqueios de ramo e progressão para BAV.

As Diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia oferecem recomendações específicas para o manejo desses eventos no período pós-procedimento. A indicação para implante de MPD é mandatória em pacientes com BAV completo ou de alto grau persistente por mais de 24–48 horas após a realização do TAVI. Da mesma forma, o surgimento de bloqueio de ramo alternante constitui indicação formal para intervenção marcapasso-dependente. Pacientes com bloqueio de ramo direito pré-existente que desenvolvem novas alterações eletrocardiográficas, como prolongamento do intervalo PR ou alargamento do complexo QRS, também devem ser submetidos a monitoramento adicional ambulatorial ou estudo eletrofisiológico, conforme preconizado.

Foram identificados preditores robustos de necessidade de MPD no pós-TAVI, incluindo bloqueio de ramo direito basal, novo bloqueio de ramo esquerdo com QRS ≥150 ms ou PR ≥240 ms, prolongamento progressivo de intervalos de condução nas primeiras 48 horas e a utilização de válvulas autoexpansíveis, reconhecidamente associadas a maior incidência de distúrbios de condução.

Diante dos desafios logísticos e financeiros impostos pela telemetria contínua e monitoramento implantável, o uso intermitente de ECG portátil com dispositivos como o KardiaMobile 6L surge como uma solução prática, segura e custo-efetiva para o seguimento ambulatorial pós-TAVI. Este estudo reforça a importância de integrar tecnologias acessíveis na rotina clínica, especialmente em populações idosas e com alta prevalência de complicações eletrofisiológicas.

Literatura Sugerida: 

1 – De Lucia R, Giannini C, Parollo M, et al. Non-continuous mobile electrocardiogram monitoring for post-transcatheter aortic valve replacement delayed conduction disorders put to the test. Europace. 2023;25(3):1116–1125.

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