O Método Clínico

Anamnese – Parte 2

Atividade laborativa

Aqui o leitor pode achar que essa informação talvez não tenha tanta relevância na investigação de pacientes com cardiopatia estrutural, mas vou contar um caso ocorrido pessoalmente comigo que pode fazer você se atentar para esse dado.

Estava avaliando um paciente com insuficiência tricúspide importante que veio encaminhado sem um adequado diagnóstico etiológico.

No exame físico, sopro sistólico regurgitativo com rivero-carballo positivo, ou seja, na inspiração profunda, havia aumento da intensidade do sopro e o inverso na expiração forçada.

Não havia dúvidas que era uma insuficiência tricúspide, mas e a causa?

O paciente tinha 18 anos e assim abria-se um leque e possibilidades: reumática? congênita?

Uma única pergunta na anamnese mudou a história e a pergunta foi: o que você faz no seu dia a dia?

A resposta foi que o paciente era Jocquey e sua família tinha um aras, tendo, portanto, contato com cavalos desde jovem. No mesmo momento veio a pergunta seguinte: Você já caiu alguma vez?

E ele diz, quem que sempre viveu com cavalos desde novo nunca caiu? Mas tem muito tempo que não caio mais, isso era mais comum quando era mais novo.

Pronto, já tinha um dado nas mãos que pode ajudar demais. Quando solicitei a ecocardiografia, informei ao examinador que uma das minhas hipóteses era valvopatia traumática. Isso mesmo, o paciente apresentou um trauma torácico intenso quando era jovem e nem se deu conta que lesou a valva tricúspide.

No exame veio exatamente isso, ruptura de cordas tendíneas da valva tricúspide.

Diagnóstico realizado, valvopatia traumática, portanto, etiologia primária! Indicação classe I de intervenção.

Quer ver a importância do método clínico aqui?

Se fosse o mesmo achado laboratorial no ecocardiograma, mas em paciente usuário de drogas endovenosas, seu diagnóstico poderia ser outro? Talvez uma endocardite infecciosa… Viu como anamnese bem feita é fundamental?

Naturalidade e residência

São dados importantes também que podem auxiliar na melhor propedêutica a ser conduzida. Indivíduos que vem de áreas endêmicas para determinadas doenças podem aumentar nossa suspeita clínica, como nos casos de doença de chagas, febre Q (que pode causar endocardite), dentre outras.