O strain na estenose aórtica
Deformação do miocárdio!
A avaliação da função ventricular esquerda é capital na estratificação das valvopatias, determinando a gravidade ou auxiliando na condução dos portadores destas doenças.
A avaliação habitualmente é realizada por meio da fração de ejeção e medidas lineares do ventrículo esquerdo, como recomendado para as diretrizes. Estas medidas, no entanto, são insuficientes para estabelecer a real condição da função do ventrículo esquerdo.
Diversas alternativas, com informações além destas têm sido investigadas para definição mais acurada da repercussão das doenças valvares sobre os ventrículos. Uma destas é a medida de deformação miocárdica. Por meio, principalmente da ecocardiografia, é possível mensurar o quanto o miocárdio alterou o seu comprimento durante a sístole (FIGURA). Trata-se uma medida numérica, como a fração de ejeção, objetiva e direta que reflete a contratilidade do músculo cardíaco. Pode ser aferida, em diversos eixos do coração, sendo o mais utilizado aquela que mostra a deformação no eixo longitudinal do ventrículo esquerdo.
Figura: Representação das imagens ecocardiográficas para análise da deformação longitudinal (strain) do ventrículo esquerdo, onde 1 corresponde a diástole e 2 a sístole. O valor de strain longitudinal medido é a porcentagem da diferença entre os comprimentos de 1 e 2.
O parâmetro que se recomenda, atualmente, é a medida da deformação longitudinal global, que comumente se denomina strain longitudinal global.
Esta medida provou ser mais sensível e precoce em detectar anormalidades da função ventricular e preditora da resposta após intervenção das valvopatias.
Recentemente foi publicado um trabalho demonstrando que o valor global do strain longitudinal, se relaciona a pós carga e, especialmente, a fibrose miocárdica encontrada em portadores de estenose valvar aórtica.
Slimani e colegas, analisando mais de 100 portadores de estenose aórtica grave, mostrou que há um nítido comprometimento do strain longitudinal e também do circunferencial (este avaliando a diminuição da circunferência do ventrículo durante a sístole) e que ambos se relacionaram a quantidade de fibrose encontrada na biópsia do ventrículo esquerdo realizada nestes pacientes durante a cirurgia de troca valvar.
Este é mais uma evidência de que esta medida pode ser incorporada para refinar a avaliação das valvopatias e sua intervenção, em especial a estenose aórtica, que hoje já apresenta alternativas de tratamento menos invasivas e com excelentes resultados. Inclusive, algumas publicações falam em piora do prognóstico em valores acima de -18% de strain longitudinal (lembrando que o valor é negativo, logo -14% é pior do que -18%, por exemplo).
Literatura Sugerida:
1 – Slimani A, Melchior J, de Meester C, et al. Relative Contribution of Afterload and Interstitial Fibrosis to Myocardial Function in Severe Aortic Stenosis. JACC Cardiovasc Imaging. 2020 Feb;13(2 Pt 2):589-600.
