Quando avaliamos os pacientes com cardiopatia estrutural, temos que ter em mente toda a linha de raciocínio clínico muito bem embasada na fisiopatologia das doenças. Boa parte da sintomatologia que encontramos nas queixas dos pacientes são secundárias à elevação das pressões cavitarias. Quando do lado esquerdo, levando a impacto no capilar alveolar, quando do lado direito, na pressão venosa central.
Além do exame físico, uma diversidade de métodos diagnósticos é usada nesse contexto buscando assinalar quais os pacientes realmente apresentam essas alterações, que, em última análise são causa e explicação dos sintomas de insuficiência cardíaca.
A ecocardiografia pode ser uma ferramenta fundamental no exame beira-leito, pois é capaz de estimar com relativa precisão a pressão venosa central, mas em casos de regurgitação tricúspide importante, a interpretação deveria ser a mesma?
Quem faz esse método de imagem sabe que, na presença de graus avançados de regurgitação tricúspide, a avaliação das pressões dentro do átrio direito deve ser realizada com cautela. Alguns erroneamente chegariam inclusive a descartar o método nesse contexto, evitando trazer essa informação valiosa para o manejo clínico.
Recentemente, no contexto de uma regurgitação tricúspide importante, ficou comprovado que a avaliação ecocardiográfica das pressões de enchimento do lado direito do coração trazia maior impacto prognóstico do que a presença de turgência jugular patológica ou mesmo edema de membros inferiores.
O maior impacto dessa alteração fisiopatológica é a elevação retrógrada das pressões, com repercussão esplâncnica clara e elevação do risco de falência funcional dos órgãos relacionados, como fígado ou rim.
A utilização da ecocardiografia como ferramenta na abordagem desses pacientes é importante, pois traz de forma paramétrica a presença de congestão venosa, que nem sempre é avaliada de forma assertiva no exame físico ou através das queixas dos pacientes.
Agora você pode estar se perguntando, então é para usar essa avaliação em todos os pacientes sempre?
Não exatamente isso, temos que usar o método e reconhecer suas limitações. Nesse ponto, um especialista em ecocardiografia e que tenha experiência com cardiopatia estrutural pode auxiliar quando relatar que as medidas da pressão arterial pulmonar não estão muito acuradas devido, por exemplo a uma falha de coaptação, o que faria o clínico seguir sua investigação.
Mas mesmo com as dificuldades do método, o valor estimado de pressões venosas centrais é importante e deve fazer parte da avaliação desse tipo de paciente.
Cada vez mais, o cardiologista clínico precisa conhecer detalhes dos métodos diagnósticos, seja para aplicar no dia a dia, seja para questionar e interpretar melhor os laudos de exames que chegam em seu consultório. E outra, unir clínica com ecocardiografia beira-leito é uma evolução da cardiologia que não tem mais volta…