Clipagem na IT

A insuficiência tricúspide é uma valvopatia que tem claro impacto negativo na sobrevida dos pacientes. Mais do que isso, quem acompanha esse tipo de paciente no ambulatório, sabe que a qualidade de vida desses pacientes é altamente comprometida. Seja por quadros de anasarca, seja por queixas de astenia e fadiga, pacientes com insuficiência tricúspide sempre pontuam muito baixo nos questionários de qualidade de vida.

Recentemente tivemos publicações interessantes sugerindo que abordagem transcateter da valva tricúspide poderia ter impacto positivo na curva de sobrevida desses indivíduos, quando comparado ao tratamento clínico isolado, o que trazia uma nova modalidade de intervenção, visto que esse benefício ainda não foi documentado com a abordagem convencional cirúrgica isolada.

Observando dados do TRILUMINATE trial, o desfecho do composto mortalidade geral, necessidade de cirurgia valvar, descompensação de insuficiência cardíaca e melhora significativa de pontuação nos escores de qualidade de vida foi positivo, mas separando essas variáveis, vemos que o maior responsável foi o questionário de qualidade de vida.

Já com 1 mês de intervenção, queixas relacionadas as sintomas e qualidade de vida já se mostravam superiores em relação ao grupo controle. Embora não seja comum usar dados como NNT para qualidade de vida, foram necessários 4 tratamentos transcateter para atingir essa melhora, o que é um dado bem interessante.

Paciente com quadros mais avançados de deterioração da função sistólica do ventrículo direito tiveram resultados inferiores, o que sinaliza para um estágio mais avançado da doença e talvez já fora de uma janela terapêutica adequada.

Vale ressaltar também que os resultados do implante do Clip sobre o grau da regurgitação têm impacto direto na melhora da qualidade de vida ao longo de 1 ano, gerando uma relação de “dose-resposta”, alinhando a plausibilidade fisiopatológica da intervenção na valvopatia com a melhora da qualidade de vida.

Vale ressaltar que essa avaliação de qualidade de vida só é possível nos indivíduos que sobreviveram e isso poderia gerar algum grau de viés nos resultados, embora os dados não sugiram esse efeito.

Analisando profundamente essas publicações fica a ideia de que estamos diante de uma possibilidade interessante de uma técnica que impactará positivamente na curva de mortalidade e mais do que isso, na qualidade de vida desses indivíduos, embora ainda precisemos entender melhor o momento mais adequado e a técnica precisa para essa intervenção.