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Diagnóstico da Doença Reumática

O Papel da Inteligência Artificial

A Doença Cardíaca Reumática, uma complicação da Febre Reumática Aguda, é uma das principais doenças endêmicas não transmissíveis em países de baixa e média renda, respondendo por quase 2 milhões de mortes. Segundo dados do estudo REMEDY, já comentado em editoriais anteriores, existem lacunas na implementação de intervenções médicas e cirúrgicas de eficácia comprovada para cardiopatia reumática.

Estes incluem falhas na prevenção primária, o uso subótimo da penicilina para profilaxia secundária, monitoramento e controle inadequados dos pacientes e métodos de rastreio da doença já instalada. Nesse contexto, entender o papel do ecocardiograma como ferramenta eficaz no manejo e tratamento precoce, prevenindo o agravamento das lesões valvares e na progressão para insuficiência cardíaca se faz mister.

Estudos têm demonstrado que a ecocardiografia de triagem é mais sensível do que a ausculta na detecção precoce da cardiopatia reumática. Entretanto, em relação à ecocardiografia no Brasil, nos deparamos com os seguintes desafios: é realizado apenas por médicos cardiologistas em centros diagnósticos de atenção secundária e terciária, alta demanda e filas de espera nos principais serviços públicos.

Nesse contexto, em 2021, emergiu uma perspectiva viável em relação à condução desse exame por profissionais não especializados em ecocardiografia. Narang et al. revelou que indivíduos não especializados em ecocardiografia, após um treinamento breve, demonstraram a capacidade de diagnosticar disfunções ventriculares esquerdas e avaliar a anatomia das válvulas.

Isso apresenta uma perspectiva encorajadora para simplificar e ampliar a triagem de casos de cardite reumática. De maneira ainda mais notável, com o apoio da Inteligência Artificial, foi conduzido um estudo prospectivo e observacional publicado no JASE em 2023, realizado em Kampala, Uganda, no Uganda Heart Institute (UHI), com 36 enfermeiros e enfermeiras, bem como 10 ecocardiografistas. Tal estudo teve como objetivo avaliar a viabilidade do uso de ecocardiograma com doppler por profissionais não especializados nos países onde existe carência pelo serviço.

Todos os aprendizes passaram por uma sessão de treinamento de menos de 5 horas sobre anatomia cardíaca, fisiopatologia da doença cardíaca reumática, noções básicas de ultrassonografia com a janela paraesternal longitudinal, apical 4 e 5 câmaras, com uso de doppler para avaliação de valva mitral e aórtica. Um total de 462 ecocardiogramas foram realizados, 362 por não especialistas e 100 por especialistas, em 25 pacientes com doença e 25 pacientes sem histórico de doença cardíaca, com idade média de 22 anos. O objetivo principal foi avaliar a capacidade dos não especialistas em adquirir imagens que foram considerados interpretáveis pelos revisores especialistas, com desempenho almejado de 80%, com a qualidade da imagem avaliada utilizando uma escala da American College of Emergency Physicians.

Os trainees conseguiram uma interpretação diagnóstica, morfologia anormal e refluxo da valva mitral de mais de 90%, com desempenho pouco pior para estenose mitral e regurgitação aórtica e significativamente pior para morfologia da valva aórtica e estenose aórtica. Além disso, obtiveram sucesso para a aquisição da janela paraesternal eixo longo e uso do doppler da valva mitral, ficaram próximos do sucesso na janela apical 4 câmaras e tiveram menos de 50% de sucesso na visualização da janela apical 5 câmaras.

Um marco pioneiro, este estudo incorpora a orientação da Inteligência Artificial ao Doppler colorido para a triagem de Doença Cardíaca Reumática por profissionais não especializados, revelando a viabilidade de alcançar imagens diagnósticas em mais de 90% dos pacientes após um breve treinamento de apenas 5 horas. O estudo evoca tanto otimismo quanto incertezas: por um lado, a perspectiva de combinar IA com Doppler colorido surge como um salto significativo na batalha contra a doença cardíaca reumática em países menos desenvolvidos, ampliando ainda mais seu potencial com o aprimoramento contínuo por profissionais de saúde.

Por outro lado, subsiste o questionamento sobre a viabilidade e custo efetividade desse rastreio em uma nação de proporções continentais, dificuldades sociais e políticas como o Brasil por exemplo, onde a doença existe e é subdiagnosticada.

APONTAMENTOS:

40,5 milhões de pessoas atualmente possuem Doença Cardíaca Reumática e 306 mil morrem por esta condição todos os anos. Assim, os profissionais de saúde devem estar cientes dessa doença e ter uma sólida compreensão de como diagnosticá-la e tratá-la.

O ecocardiograma é a ferramenta diagnóstica mais importante no reconhecimento da Doença Cardíaca Reumática.

É essencial aproveitar todas as modalidades disponíveis de ecocardiografia para obter detalhes anatômicos e hemodinâmicos precisos das lesões valvares para diagnóstico e planejamento estratégico do tratamento.

Literatura Sugerida:

  1. Peck D, Rwebembera J, Nakagaayi D, Minja NW, Ollberding NJ, Pulle J, et al. The use of artificial intelligence guidance for rheumatic heart disease screening by novices. J Am Soc Echocardiogr 2023;36:724–32.

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