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Fisiologia Cardiovascular

Dinâmica de volumes – Parte III

 

Aqui vamos trazer um conceito muito importante para a compreensão do surgimento de sintomas nas disfunções valvares, assim como nas doenças cardiovasculares como um todo, a relação de volume e pressão e o conceito de complacência.

Se deixarmos um cateter medindo a pressão dentro do ventrículo e ao mesmo tempo, calcularmos a variação de volume cavitário, poderíamos colocar num gráfico pressão por volume essas variações.

Aqui já podemos lançar um conceito importante, que é a complacência de uma cavidade. Ela é definida como a capacidade de aumentar seu volume sem elevar de forma importante sua pressão. Ou seja, é a capacidade de uma cavidade, como o ventrículo em receber sangue, sem elevar suas pressões de enchimento.

Algumas características atuam para tornar uma cavidade muito complacente, como a elasticidade de sua parede e a velocidade com a qual a demanda de volume ocorre.

Vejamos a seguinte situação:

Um indivíduo desenvolve uma insuficiência aórtica crônica e vai, ao longo dos anos, apresentando um volume regurgitante cada vez maior. No início do processo, o pouco volume de sangue que retornou ao ventrículo o fez se distender e, de forma adaptativa, o ventrículo aumentou seu diâmetro através de uma hipertrofia excêntrica.

De forma lenta e contínua, esse processo adaptativo continuou até que chegamos a uma situação de dilatação cavitária tal que, o retorno de 100mL de sangue gerado por uma insuficiência aórtica importante não causa elevações importantes da pressão, pois o ventrículo consegue acomodar esse volume. Nesse momento, afirmamos que estamos diante de um ventrículo esquerdo com elevada complacência e o paciente, de forma geral, não desenvolve sintomas.

Agora imaginemos que esse mesmo indivíduo apresente uma regurgitação aórtica, mas que se inicie de forma mais rápida e cada vez com mais volume, de tal forma que não temos tempo suficiente para que o ventrículo desenvolva uma dilatação com hipertrofia excêntrica. Nesse momento a cavidade não consegue acomodar o volume de sangue e mesmo volumes menores como 50mL já seriam capazes de elevar demais a pressão de enchimento, que invariavelmente causaria sintomas. Nesse momento dizemos que esse ventrículo não tem muita complacência, pois não consegue acomodar esse volume de sangue sem elevar demais as pressões de enchimento.

Observando a curva de pressão e volume do ventrículo esquerdo exposto na imagem abaixo, vemos que ao variar o volume de 50 mL a 110 mL, o ventrículo basicamente não altera a pressão de enchimento, sendo, portanto, esse o limite de complacência de um ventrículo normal que não sofre sobrecarga crônica. Após esse momento, vemos uma grande elevação da pressão, logo, qualquer volume que por acaso fosse injetado nesse ventrículo levaria a um aumento súbito na pressão.

Chama atenção também nesse gráfico os momentos de variação grande de pressão, mas sem variação nos volumes. São as linhas verticais nas duas extremidades do gráfico e representam à esquerda, o relaxamento isovolumétrico e à direita, a contração isovolumétrica, já faladas anteriormente.

Literatura Sugerida:
1 – Bignoto, Tiago. Valve Basics – Valvopatia do Básico ao Avançado. 1ª ed. São Paulo: The Valve Club, 2021.

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