Disfunção sistólica na insuficiência aórtica
Ainda vale a pena intervir?
A insuficiência aórtica leva a uma sobrecarga volêmica crônica ao VE que se encontra numa situação de elevada pré e pós-carga. De forma adaptativa, ocorre dilatação da cavidade que em fases avançadas pode apresentar descompensação e iniciar um processo de perda de função sistólica. Como abordado recentemente aqui na nossa plataforma, o momento ideal de se intervir seria um estágio anterior a queda da fração de ejeção ou mesmo em um momento onde as alterações podem ainda ser reversíveis.
Atualmente, pacientes com dilatações avançadas do VE tem indicação de intervenção, mesmo quando assintomáticos, embora isso não seja uma unanimidade. O evento mais temido é perder o timing adequado do procedimento e evoluir com extensa fibrose e perda da função contrátil do miocárdio.
É conhecido que a queda na FEVE tem impacto negativo na sobrevida a longo prazo nos pacientes com insuficiência aórtica importante. Também no curto prazo, aqueles que apresentam disfunção importante apresentam mortalidade em 30 dias elevadas, embora um centro de excelência técnica possa reduzir os impactos desses números.
Muito tem se pesquisado sobre fatores preditores para recuperação da FEVE com o tratamento cirúrgico e sabe-se que em torno de 1/3 dos pacientes não apresentam recuperação nem de diâmetros, nem de FEVE. No entanto, no pós-operatório, há queda da pré-carga e também da pós-carga, levando a menor stress ao VE, gerando uma situação propícia a melhor desempenho sistólico.
Em resumo temos que a queda na FEVE em pacientes com IAo traz pior prognóstico a longo prazo, mas uma vez que isso tenha ocorrido, a correção o quanto antes traz maiores possibilidades de recuperação da função contrátil, estando então, indicado, exceto em estágios terminais com extensa fibrose e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo.
Literatura recomendada
1 – Murashita T, Schaff HV, Suri RM, et al. Impact of Left Ventricular Systolic Function on Outcome of Correction of Chronic Severe Aortic Valve Regurgitation: Implications for Timing of Surgical Intervention. Ann Thorac Surg. 2017 Apr;103(4):1222-1228.
