Como devemos manejar? – Parte 2
Seguindo a Copa do Mundo, certeza que muitos de nós se sentem estimulados a praticar atividade física de maior intensidade como as partidas de futebol entre os amigos. Já abordamos aspectos iniciais sobre esse contexto, mas hoje vamos com a segunda parte dessa série…
Algumas valvopatias se configuram como situações especiais e merecem mais atenção antes de generalizarmos apenas na graduação da disfunção valvar. Um desses exemplos é o prolapso da valva mitral.
Marcado por alterações anatômicas de redundância dos folhetos e/ou cordas tendíneas secundárias a alterações do metabolismo do colágeno, o prolapso da valva mitral vai muito além da anormalidade valvar.
Um registro italiano mostra que morte súbita em jovens atletas identificou prolapso da valva mitral em 7% dos casos, sendo mais comum em mulheres.
Interessante ressaltar que a maioria dos casos que evoluíram para óbito não apresentavam regurgitação valvar importante, mas apresentavam alterações elétricas e estruturais do coração que sugeriam a síndrome arritmogênica do prolapso da valva mitral. A grande maioria apresentava ondas T invertidas e extrassístoles frequentes.
Um possível estiramento aumentado do aparato valvar mitral secundário à atividade física intensa poderia ser a causa do gatilho arritmogênico nesses pacientes, mas dados ainda são escassos sobre essa teoria. Sabemos que a presença de fibrose miocárdica e disjunção do anel mitral aumentam as chances de eventos arrítmicos graves.
Outras complicações podem ser encontradas nesses pacientes, como ruptura de cordas tendíneas e piora da regurgitação, formação de trombos cavitários e acidente vascular cerebral e até mesmo endocardite infecciosa, mas eram mais comuns em atletas considerados mais velhos.
A valva aórtica bicúspide, ou bivalvar também merece atenção especial por razões específicas da fisiopatologia da doença.
Essa é a doença valvar congênita mais frequentemente encontrada e tem prevalência aumentada no sexo masculino. Tem bases genéticas muito semelhantes ao prolapso da valva mitral, embora isso ainda não esteja completamente elucidado.
Indivíduos com fusão dos folhetos direito e não coronariano têm maior risco de rápida progressão da disfunção valvar, seja estenose aórtica ou regurgitação. Em contraste, pacientes com fusão dos folhetos coronários direito e esquerdo exibem maior grau de degeneração da parede aórtica e também pode estar associada mais prevalentemente com coarctação da aorta.
Os efeitos hemodinâmicos do exercício físico intenso não parecem ter um impacto negativo na estrutura e função do ventrículo esquerdo entre atletas de elite a médio prazo.
Embora seja incerto se a restrição da atividade física limita a taxa ou até mesmo o risco de dilatação ou dissecção aórtica, existe uma preocupação teórica que os efeitos hemodinâmicos do treinamento físico podem acelerar aortopatias em atletas com valva cortiça bivalvar.
Dados de coortes de atletas sugerem que os casos de maiores dimensões aórticas estão relacionados a atividades físicas marcadamente associadas a resistência e isometria. A opinião consensual dos guidelines recomenda que indivíduos com um diâmetro da raiz da aorta maior do que 40 mm não devem praticar esportes ou atividades que estão associadas a condições de carga aumentadas.
Literatura Sugerida:
1 – Gati S, Malhotra A, Sharma S. Exercise recommendations in patients with valvular heart disease. Heart. 2019 Jan;105(2):106-110.
Click Valvar#377 – Doenças Valvares e Esportes – Parte 2
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