Sabemos que endocardite infecciosa é uma doença grave e potencialmente letal. Mesmo naqueles casos que não experimentam esse desfecho, o impacto acaba sendo importante, visto que metade dos casos necessitará de uma abordagem cirúrgica dentro dos próximos 12 meses.
Em casos específicos, a endocardite pode ocorrer do lado direito do coração, principalmente em casos de pacientes que apresentam dispositivos venosos invasivos.
Cada vez mais frequente nos dias de hoje, a drogadição em opioides injetáveis tem se tornado um caso de saúde pública importante, visto diversos impactos. Algumas publicações, inclusive, chegam a apontar que, em casos de dependentes químicos, a endocardite tenha uma evolução ainda pior.
Em recente publicação, foi apontado que a drogadição é uma condição de igual ou pior mortalidade nesses indivíduos, o que nos traz dois grandes problemas de saúde: a dependência química e a endocardite infecciosa.
Em análises de banco de dados, o uso da heroína é a droga mais prevalente nesse contexto, mas fentanil e derivados tem se aproximado dessa casuística.
Outro dado interessante é a faixa etária esperada nesses casos, que se apresentam em indivíduos mais jovens, ao redor dos 35 anos de idade.
Mesmo em acompanhamento próximo, uma alta taxa de perda de seguimento é relatada nesses pacientes, o que pode nos fazer subestimar os casos de recaída da drogadição ou mesmo na mortalidade.
Dado extremamente preocupante é que mesmo com uma abordagem psicossocial conjunta com o tratamento para a drogadição, as taxas de recaídas são extremamente altas, principalmente no primeiro ano, nos trazendo uma série de questionamentos das características dessas abordagens, parecendo ser a drogadição em opioides até mais grave do que a endocardite e uma possível abordagem cirúrgica.
Embora a recaída seja alta 5 anos após a cirurgia, o achado mais importante foi que o risco de recidiva atingiu o pico aos 9 meses de pós-operatório. Nesse contexto, uma idade mais jovem, o uso de heroína e nível de escolaridade abaixo do ensino médio foram preditores de recaída.
Esses fatores talvez sejam interessantes para identificarmos os casos mais propensos a desfechos negativos e motivar uma abordagem mais intensa e personalizada.
Em casos estáveis do ponto de vista da endocardite, tem sido recomendado, inclusive, uma abordagem inicial acerca da dependência química, como ponte até o paciente estar apto a se submeter a uma intervenção cirúrgica.
Em um contexto de endocardite infecciosa e, principalmente, de pós-operatório de cirurgia cardíaca, não temos evidências suficientes de qual classe medicamentosa poderia auxiliar no tratamento da dependência aos opioides.
Diante do exposto, é notório que esses casos são mais complexos e demandam um atendimento e acolhimento diferenciado, mas, mesmo seguindo as orientações específicas e presentes nos guidelines, ainda não vemos resultados positivos nessa população nos deixando claro que falta muito a fazer para esses pacientes…