Sopro da Estenose aórtica – Parte 2
De forma oposta, outra manobra pode nos dar um comportamento diferente desses sopros. A solicitação para que o paciente execute um agachamento aumenta transitoriamente o retorno venoso, portanto a pré-carga.
Nesse novo contexto hemodinâmico, o sopro da estenose aórtica irá elevar sua intensidade, enquanto o da obstrução da via de saída tende fortemente a reduzir, já que o retorno venoso aumentado irá distender o ventrículo e aumentar o espaço na via de saída, reduzindo o gradiente.
O mesmo pode ser visto com o paciente em decúbito dorsal e que seja submetido a uma elevação dos membros inferiores. A leitura é a mesma, eleva-se o retorno venoso e a pré-carga do ventrículo esquerdo.
Quando a dúvida passa a ser com um sopro da insuficiência mitral, que também é sistólico, podemos lançar mão de outra manobra semiológica, o Handgrip.
Essa manobra tem comportamento hemodinâmico distinto das manobras que já discutimos até aqui. Ela é a contração de uma mão contra a outra, levando a uma isometria dos músculos dos membros superiores. A manobra, para ser efetiva, deve durar ao menos 5 segundos.
Ao realizar a manobra, ocorre a contração de diversos grupos musculares, elevando assim, transitoriamente, a resistência vascular periférica, já que músculo contraído é mais difícil de ser perfundido. Assim, o ventrículo esquerdo necessita de uma demanda maior de esforço para ejetar seu conteúdo na artéria aorta.
No contexto de uma estenose aórtica a realização dessa manobra reduz a intensidade do sopro, pois com a elevação da pressão periférica, menos sangue passaria, transitoriamente pela valva estenosada, reduzindo o sopro. Outra leitura fisiológica desse componente é que elevando as pressões periféricas, o gradiente pressórico entre o ventrículo esquerdo e a Aorta estarão reduzidos e, portanto, um turbilhonamento menor será gerado com sopro de menor intensidade.
Já no contexto de uma insuficiência mitral, o oposto irá ocorrer. Como ocorre elevação transitória da pós-carga, o ventrículo acaba por ejetar mais sangue no interior do átrio esquerdo por uma valva mitral incompetente. Se mais sangue acaba por retornar ao átrio esquerdo, o sopro da insuficiência mitral vai aumentar de intensidade, diferenciando-se do sopro da estenose aórtica que, como vimos, reduz sua intensidade com essa manobra.