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Fisiologia do tecido miocárdico

Muito provavelmente, durante a faculdade, você leitor estudou profundamente sobre o funcionamento celular em detalhes. Desde a despolarização, até a condução do estímulo a uma célula adiante. 

O músculo cardíaco é um tipo levemente diferente de músculo estriado esquelético. Em sua trama tecidual, podemos diferenciar dois tipos básicos de células, as excitatórias e as condutoras. Elas têm comportamentos próprios, mas histologicamente, se agrupam em uma espécie de malha ou trama e funcionam como um verdadeiro sincício. 

Essa divisão gera um sincício atrial separado do ventricular pelo tecido fibroso de sustentação das valvas átrio ventriculares, ou seja, valvas mitral e tricúspide. Como se trata de um sincício, a condução celular é muito rápida e todo o tecido conectado se contrai quase que conjuntamente.

Aqui já temos um conceito interessante para nossa compreensão do ciclo cardíaco e como isso pode interferir diretamente no racional das doenças valvares. Essa disposição em tecidos isolados é fundamental para que os átrios se contraiam instantes antes dos ventrículos. Assim, na telediástole ventricular, ocorre a contração dos átrios, empurrando o restante do sangue que não passou nos momentos iniciais da diástole.

É nesse momento que alguns achados típicos são formados. Em casos de estenose aórtica importante, o ventrículo esquerdo se hipertrofia de forma concêntrica, comportamento fisiológico que abordaremos mais a frente nessa obra. Essa hipertrofia leva a um enrijecimento que dificulta a acomodação do sangue nessa cavidade durante a diástole. Assim, uma quantidade maior de sangue acaba ficando no átrio até momentos finais da diástole, o exato momento em que o sincício atrial se despolariza e se contrai.

Diante de um ventrículo enrijecido, a contração atrial deve ser mais vigorosa do que o habitual e isso pode causar um ruído, que ocorre poucos instantes antes da primeira bulha – marca sonora que marca o início da sístole ventricular. Essa é a quarta bulha, ou B4, originada da contração atrial diante de um ventrículo enrijecido, como encontramos nas situações de hipertrofia concêntrica.

Outro achado interessante nesse momento do ciclo cardíaco e que também é criado pela contração atrial é o reforço pré-sistólico na estenose mitral. Seguindo o mesmo racional, diante de uma estenose da valva atrioventricular, como por exemplo a mitral, algum grau de sangue fica represado no átrio esquerdo até momentos finais da diástole. Nesse momento, o átrio se contrai e empurra o restante de sangue através dessa valva estenosada, fazendo a velocidade de sangue se elevar e criar um ruído, ou mais propriamente, uma elevação da intensidade do sopro diastólico, chamado de reforço pré-sistólico. Discutiremos esse achado com detalhes mais adiante nessa obra.

Literatura Sugerida:
1 – Bignoto, Tiago. Valve Basics – Valvopatia do Básico ao Avançado. 1ª ed. São Paulo: The Valve Club, 2021.

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