O tecido do coração é capaz de se remodelar em resposta a diversos estímulos, sejam eles fisiológicos ou patológicos. Conhecer essa evolução é importante na composição dos adequados diagnósticos. Por exemplo, não esperamos encontrar uma insuficiência mitral importante sem termos hipertrofias excêntricas das cavidades acometidas. Nesse contexto, ou a gravidade da insuficiência está mal avaliada, ou a avaliação da cavidade que foi insuficiente.
É importante termos em mente que determinadas situações fisiológicas podem levar a quadros que confundem o avaliador, como nos casos dos atletas de elite, em que, de forma adaptativa à elevada demanda de exercícios, o coração desenvolve uma hipertrofia, mas que não causa prejuízo na sobrevida. De forma oposta, uma lesão valvar poderia gerar a mesma hipertrofia, mas que poderia sim, impactar negativamente na sobrevida do indivíduo.
Apesar de estabelecidas diferenças entre a hipertrofia fisiológica para a patológica, é possível que essas manifestações não sejam distantes de forma binária, mas que na verdade sejam a manifestação de um contínuo de plasticidade miocárdica.
Para iniciarmos essa discussão, é fundamental que abordemos uma série de conceitos, como hipertrofia miocárdica, hipertrofia excêntrica etc.
O remodelamento concêntrico é o desenvolvimento de um aumento de espessura, mas mantendo a massa ventricular total dentro da normalidade. Já a hipertrofia concêntrica, há aumento da massa e elevação da espessura das paredes do ventrículo. O conceito de hipertrofia excêntrica é o aumento da massa às custas do aumento dos diâmetros e com espessura da parede normal.
Um ponto interessante para entendermos que ajuda a diferenciar uma hipertrofia patológica de uma fisiológica é a presença de um desarranjo celular, presente apenas na patológica. O estímulo nocivo leva a acúmulo de matriz extracelular rica em colágeno, formando regiões ou cicatrizes de fibrose, com apoptose de miócitos e perda de organização contrátil.
Diante de um determinado estímulo, as cavidades cardíacas tendem a apresentar uma certa plasticidade, sempre seguindo uma importante lei que se aplica a esses contextos, a lei de La Place.
Segundo essa teoria, com o objetivo de manter a tensão de parede ventricular contínua e estável, a relação entre espessura miocárdica e diâmetro cavitário deve ficar mantido. Situações em que a tensão de parede se eleva, fazem aumentar o gasto energético e, portanto, aumentar a demanda metabólica.
Assim, em casos de elevação de pré-carga de forma crônica, a cavidade aumenta sua dimensão, fazendo elevar a tensão da parede. Nesse contexto, se houvesse elevação da espessura da parede, os valores de gasto metabólico se elevariam ainda mais, então o miocárdio lança mão de aumentar sua massa, mas as custas de uma hipertrofia em série das fibras.
Literatura Sugerida:
1 – Bignoto, Tiago. Valve Basics – Valvopatia do Básico ao Avançado. 1ª ed. São Paulo: The Valve Club, 2021.
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