Um olhar mais amplo
Sabemos que pacientes com estenose aórtica sintomática ou redução na fração de ejeção do ventrículo esquerdo têm alta morbimortalidade e precisam ser avaliados para intervenção. No entanto, esse perfil de risco está restrito somente ao polo mais grave dessa valvopatia?
A classificação tradicional da gravidade da estenose aórtica, em discreta, moderada e importante, baseada em dados morfológicos e hemodinâmicos, levanta questões sobre como agir diante de discordâncias nessa classificação. Um exemplo disso são as diretrizes atuais, muitas vezes limitadas quando há divergências nos diagnósticos. Nesse contexto, pacientes com tais diferenças tendem a evoluir com uma taxa de mortalidade similar à encontrada nos casos mais graves, como na estenose aórtica moderada a importante.
Considerar, então, uma atualização para um grau mais elevado de estenose quando critérios menos severos estão presentes pode evitar ambiguidades e tratamentos subótimos. Os dados reais mostram um número significativo de pacientes em um grau intermediário de estenose valvar, entre as três graduações tradicionais, possivelmente devido a variações na obtenção de imagens e disparidades entre área, fluxo e gradiente transvalvar.
Ao analisar os desfechos de todo o espectro da doença, observa-se que a curva de mortalidade aumenta progressivamente de acordo com a graduação da estenose. Esses dados advêm de estudos observacionais e muitas vezes retrospectivos, e sabemos que a estenose aórtica importante é mais prevalente na população idosa, que naturalmente possui mais comorbidades. Dessa forma, a curva ascendente de mortalidade de acordo com o grau da estenose valvar pode não estar relacionada somente à valvopatia.
A dependência exclusiva de algoritmos para a avaliação de relatórios ecocardiográficos, sem uma revisão das imagens originais, pode comprometer a precisão dos resultados obtidos. Uma análise mais minuciosa dos ecocardiogramas e a obtenção de informações completas sobre os óbitos dos pacientes são fundamentais para oferecer uma visão mais precisa da gravidade da estenose aórtica.
A presença de várias comorbidades, como hipertensão, fibrilação atrial, doença arterial coronariana e baixa fração de ejeção do ventrículo esquerdo, além de estar associada ao envelhecimento, também contribui para um prognóstico desfavorável na estenose. Isso ressalta a importância fundamental da avaliação clínica e ecocardiográfica na determinação da gravidade da condição e na avaliação da necessidade de intervenção na válvula aórtica.
Essas limitações em estudos amplos refletem os desafios da prática clínica cotidiana, evidenciando a relevância da avaliação individual, caso a caso, para a tomada de decisão. É imprescindível um enfoque contínuo na pesquisa e na prática clínica para aprimorar o cuidado e os resultados para pacientes com estenose aórtica.
Se há benefício em intervir em formas mais precoces do espectro clínico dessa valvopatia, ainda não temos clareza. Estudos importantes devem ser publicados nos próximos anos e trazerem respostas pertinentes. O que fica é a necessidade de conhecer a fisiopatologia da doença e estar atento à configuração hemodinâmica de cada paciente para seguimento e intervenção adequados.
Literatura Sugerida:
1 – Généreux, Philippe, et al. “The mortality burden of untreated aortic stenosis.” Journal of the American College of Cardiology 82.22 (2023): 2101-2109.
Click Valvar Academy#494 – Mortalidade da EAo
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