Dispneia – Parte 2
Dispneia de decúbito (ortopnéia)
Existem manifestações distintas de dispneia que não aquela relacionada diretamente com o esforço físico. Determinadas condições podem levar a um acometimento transitório de uma maior área de trocas gasosas do pulmão, como o decúbito.
Em pacientes com congestão venocapilar pulmonar, o ato de deitar espalha o líquido excedente por todo o pulmão, fazendo a troca gasosa cair e o paciente apresentar queixas de dispneia, mesmo ao repouso.
Essa é a ortopneia, ou dispneia do decúbito, que surge apenas quando o paciente se deita. Geralmente, como forma de reflexo, o paciente com o tempo começa a usar mais travesseiros para dormir, de forma a elevar a cabeça e o tórax, chegando até a dormir sentado nos casos mais graves. Quando o paciente se deita, vem normalmente a tosse ou a dispneia.
Qualquer situação que leve a um represamento de volume na árvore capilar pulmonar pode levar a essa manifestação semiológica. Se há uma perda da força de contração do ventrículo esquerdo, ou se encontramos uma regurgitação aumentada, as pressões de enchimento aumentadas são transmitidas para o pulmão que, ao mesmo tempo, está recebendo do ventrículo direito sangue que retorna da periferia.
O pulmão fica então congesto, pois acumula sangue que chega do ventrículo direito e sangue que não conseguiu seguir seu caminho a partir do ventrículo esquerdo. Com a congestão pulmonar pode haver edema intersticial ou até extravasamento de líquido do interstício do pulmão para dentro do alvéolo. Em momentos de descompensação ou naqueles em que o processo ocorre muito rápido, podemos, inclusive encontrar o edema agudo de pulmão.
Outro ponto que pode piorar esse quadro hemodinâmico é o decúbito com elevação dos membros inferiores. Dessa forma, há um aumento do retorno venoso, o que também aumenta a pressão no interstício pulmonar, gerando a dispneia. Essa dispneia pode estar acompanhada de sibilo, se o edema for tão intenso que estiver comprimindo vias aéreas. Essa é uma situação não tão comum, mas quando ocorre, pode ser chamada de “asma cardíaca”, embora seja um termo não muito adequado. Geralmente o paciente não consegue nem pegar no sono, pois a dispneia surge poucos minutos após se deitar. Esse é um dado que ajuda a diferenciar da dispneia paroxística noturna, que veremos a seguir.