No final de 2018, tivemos publicações que mudariam a forma como a qual a cardiologia lidaria com pacientes com estenose aórtica. Vieram as publicações dos trials que falavam dos pacientes de baixo risco e agora já temos 5 anos de acompanhamento desses indivíduos.
Toda as vezes que comentamos sobre esse procedimento nesses pacientes vem o questionamento: mas será que ao longo dos anos, o benefício do TAVI nos pacientes de baixo risco demonstrará a mesma proporção com relação à cirurgia convencional?
Após 5 anos de acompanhamento, conseguimos observar que o resultado positivo se mantém, com o composto de morte, avc e reinternação sendo semelhantes nos dois grupos de intervenção. No entanto, o tempo médio livre de eventos foi maior no grupo TAVi, principalmente por causa do componente reinternação hospitalar.
Sobre a durabilidade das próteses nesse acompanhamento, não temos diferenças entre pacientes que implantaram prótese transcateter ou por via cirúrgica convencional, como já era imaginado, baseado nos achados de trials com pacientes de risco intermediário. Essa questão só deve ter um posicionamento mais definitivo quando observamos acompanhamentos mais longos, como 10 ou 15 anos.
Sobre os desfechos secundários, mantiveram-se como encontrado no acompanhamento de 1 ano, sendo fibrilação atrial e sangramentos menos frequentes no grupo TAVI e necessidade de marcapasso e leak paraprotético no grupo cirurgia.
Apesar das diferenças entre as complicações entre os grupos, esse achado não impactou nos desfechos dos grupos.
Desfechos semelhantes foram encontrados com avaliações clínicas de classe funcional e qualidade de vida após os 5 anos de acompanhamento.
Interessante ressaltar que por serem pacientes mais jovens e com menor carga de comorbidades, a avaliação de médio e longo prazo são importantes. Quando observamos as curvas de desfechos duros, após completar 1 ano de acompanhamento, elas praticamente se sobrepõem, mostrando que superado o stress cirúrgico inerente ao grupo de cirurgia convencional, ambos os métodos têm bons resultados.
Ainda sem uma explicação clara, o número de mortes do primeiro ao quinto ano foi maior no grupo TAVI, mas sem impactar significativamente os resultados. Se a pandemia de COVID influenciou nesse aspecto, também não ficou claro.
O diagnóstico de trombose de prótese ao longo dos 5 anos foi maior no grupo TAVI sem uma clara motivação para esse achado e essa complicação não impactou significativamente a incidência de deterioração de bioprótese de acordo com o VARC-3. É possível que a terapia anticoagulante possa ter interferido nesse momento, mas não foi possível criar essa correlação.
Vale ressaltar que os resultados são muito animadores e consolidam o método no dia a dia do cardiologista clínico, mas como todo trial, devemos ter em mente que não são dados de mundo real, em que nem todos os tipos de pacientes foram observados adequadamente por não terem sido incluídos.
Se o TAVI já era considerado um divisor de águas na cardiologia, agora ele se consolida ainda mais nesse posto de uma era pré e pós TAVI!