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Sarcopenia e Doenças Valvares

Agora o espectro é a Insuficiência Mitral

Alguns conceitos passaram a ser rotineiros dentro do mundo da cardiopatia estrutural e, sem sombra de dúvidas, trouxe grande incremento técnico acerca da avaliação e melhor indicação de intervenção. Um desses pontos é o status nutricional do indivíduo que receba o diagnóstico de uma doença valvar.

Desde indivíduos sarcopênicos até mesmo os obesos apresentam maiores riscos de complicações diante de uma avaliação de fragilidade pré-procedimento. Na estenose aórtica, pacientes desnutridos são conhecidos por apresentarem maiores riscos de intercorrências e recuperação mais lentificada.

Indivíduos com insuficiência cardíaca e queda na fração de ejeção também passaram a ter esse screening mais detalhado e estados de desnutrição estão associados fortemente a piores desfechos.

Dos últimos anos para cá, a intervenção com a clipagem mitral em pacientes com insuficiência cardíaca e queda de fração de ejeção na presença de uma regurgitação mitral passou a ser muito discutida após as publicações do COAPT trial e do MITRA-FR.

Mas será que o estado nutricional foi avaliado nessas coortes? E mais, será que faria alguma diferença, quando pensamos nos desfechos?

Observando os pacientes que foram incluídos no COAPT, já notamos que desnutrição é uma condição extremamente prevalente nessa coorte. Aqui estamos falando de algo acima de 17% de desnutrição que se correlaciona com mortalidade geral e hospitalizações ao longo de 4 anos de acompanhamento. Vale destacar que as hospitalizações são por causas não cardiovasculares.

Dentre esses, os indivíduos que se submeteram ao procedimento invasivo com implante de MitraClip, houve melhora dos marcadores de mortalidade cardiovascular e descompensação da insuficiência cardíaca que demandassem internação, mostrando a atuação específica desse dispositivo do ponto de vista cardiológico.

Outro ponto que vale a pena mencionar é que o próprio status de insuficiência cardíaca é pró-sarcopênico, visto a série de cascatas inflamatórias sistêmicas que esses indivíduos experimentam.

Uma das críticas a esse tipo de avaliação é a forma não uniforme de avaliar de fato uma desnutrição. Escores de fragilidade, dosagens séricas de albumina, medidas corporais tanto de volume e força, bem como os tradicionais valores de IMC tem vantagens e desvantagens e devem ser utilizados de forma individual para tentarmos entender o status nutricional do indivíduo.

Diante desses resultados interessantes, vemos que a indicação da clipagem não deve ser contraindicada em casos de desnutrição, mas devemos ter em mente que os desfechos podem ser influenciados por esse estado. E um ponto muito interessante aqui é que esse estado pode ser transitório! Um ajuste nutricional pode mudar em uma escala de tempo relativamente pequena essa configuração nutricional, com claro impacto positivo na qualidade de vida e sobrevida de médios prazos.

Aqui, como em diversas outras situações, uma abordagem multiprofissional pode ser decisiva na vida desse paciente, com screening bem feito, preparo pré-procedimento e acompanhamento evolutivo conseguem alterar completamente o desfecho clínico.

Literatura Sugerida: 

1 – Scotti A, Coisne A, Granada JF, et al. Impact of Malnutrition in Patients With Heart Failure and Secondary Mitral Regurgitation: The COAPT Trial. J Am Coll Cardiol. 2023 May 27:S0735-1097(23)05584-5.

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