Speckle-Tracking de Anel Mitral

O momento ideal para se indicar a cirurgia para pacientes com estenose aórtica importante assintomática, permanece controverso e há debate sobre o papel benéfico da cirurgia precoce nesses casos. 

As diretrizes atuais recomendam uma estratégia conservadora até que surjam sintomas para indicar a realização da troca valvar aórtica (TVAo) em pacientes assintomáticos com estenose aórtica importante. A exceção são os pacientes que apresentam disfunção do VE (FEVE <50%), necessidade de outra cirurgia cardíaca, critérios de estenose aórtica muito grave ou teste de esforço anormal. Por outro lado, estudos sugerem os benefícios de uma TVAo precoce, com redução da mortalidade e hospitalização por insuficiência cardíaca em comparação com uma estratégia conservadora. 

Diante disso, com intuito de promover maiores dados estatísticos que promovam maior segurança na elegibilidade cirúrgica desses pacientes, um estudo recente publicado no Jornal Japonês de Ecocardiografia, objetivou avaliar o valor prognóstico do deslocamento tecidual do anel mitral (TMAD), uma vez que esta é uma medida de simples obtenção, menos dependente da qualidade de imagem adquirida e de rápida determinação ecocardiográfica, na hipótese de se tornar um fator adicional para decisão de uma estratégia mais invasiva. Trata-se de uma técnica ecocardiográfica baseada em Speckle Tracking, que avalia a competência das fibras miocárdicas longitudinais por meio do deslocamento do anel mitral em direção ao ápice durante a sístole ventricular.

Foram, portanto, estudados 44 pacientes assintomáticos com estenose aórtica importante e fração de ejeção do ventrículo esquerdo preservada, sendo avaliado o deslocamento tecidual do anel e promovendo a sua correlação com eventos cardíacos, incluindo o aparecimento de sintomas (dispneia e internação hospitalar por insuficiência cardíaca), diminuição da FEVE (<50%) e morte de causa cardíaca, sendo acompanhados por mínimo de 4 meses. 

Os resultados demonstraram que 16 desses pacientes (36%), os quais evoluíram com eventos cardíacos, se mostravam com maiores alterações nos valores do deslocamento, com significância estatística, quando comparados aos pacientes que não apresentaram eventos cardíacos (9.6 ± 1.9 vs 12.1 ± 2.6%, p = 0.002). Tal achado, aponta para um potencial valor prognóstico do método ao considerar esses desfechos, sugerindo a possibilidade de ser incorporada nos parâmetros de avaliação rotineira em pacientes com estenose aórtica importante assintomática. 

Vale lembrar que o referido estudo apresenta pequena amostra populacional, além de ser unicêntrico e apenas considerar pacientes com fração de ejeção preservada e sem disfunção segmentar, o que traz a necessidade de maior robustez de evidência em estudos futuros.