fbpx

T-VARC

Presente e futuro da IT.

Embora a regurgitação tricúspide tenha sido considerada benigna por décadas, atualmente se sabe da associação entre sua gravidade e desfechos desfavoráveis. Entretanto os guidelines ainda não possuem recomendações classe I para o seu manejo clínico e várias orientações têm fraca penetrância na prática clínica.   Com o intuito de propor padronização na definição, etiologias, classificação de gravidade, métodos de estudo e categorização de desfechos para os próximos trials clínicos, foi publicado um importante documento no JACC este ano, liderado por Rebecca Hahn, uma das principais pesquisadoras em doenças valvares do mundo.

Quanto à etiologia, entendendo que diferentes causas geram prognóstico e desfechos heterogêneos, propõe-se diferenciar a regurgitação tricúspide secundária em:

1) secundária ventricular, com remodelação principalmente esférica;

2) secundária atrial, mais associada a remodelação cônica do VD; e

3) associada a dispositivos cardíacos, sendo o tipo A no qual o dispositivo é causa da valvopatia por interferência direta, e tipo B quando há associação incidental.

Sobre a classificação da insuficiência tricúspide “grave”, sugere-se subdividir em grave, maciço e torrencial, no intuito de refinar os critérios de avaliação de melhora após tratamento. Essa nova divisão compara a área do orifício regurgitante pelo método PISA com a avaliação através da vena contracta e deve ser feita em contexto de euvolemia e estabilidade clínica. (Figura 1)

No que tange ao tratamento, assim como nas demais valvopatias, medicamentos não são capazes de alterar prognóstico, sendo os diuréticos a classe comumente utilizada nessa condição clínica, na tentativa de compensação, quando necessário.

A taxa de indicação de cirurgia para correção da regurgitação tricúspide ainda é baixa quando comparada à prevalência da patologia. Diretrizes atuais recomendam intervenção em casos de intensidade moderada a grave, ou em caso de dilatação anular da tricúspide durante cirurgia valvar concomitante. As terapias transcateter também parecem capazes de apresentar impacto positivo na sobrevida e redução das internações por insuficiência cardíaca, mas o Triluminate Pivotal Trial demostrou melhora na qualidade de vida, porém sem alterar mortalidade e internações por descompensação de insuficiência cardíaca.

Rebecca Hahn também orienta sobre como definir e categorizar os desfechos de interesse. A respeito de mortalidade, ela lembra que na insuficiência tricúspide é difícil diferenciar morte cardiovascular e não cardiovascular, visto ser uma doença comumente acompanhada por síndromes cardiorrenais e cardio-hepáticas, sugerindo que os ensaios sobre terapias incluam “mortalidade por todas as causas” como desfecho primário, e “mortalidade caardiovascular” poderia ser considerada secundário.

Hospitalizações devem ser divididas em “por todas as causas”, “causas cardiovasculares” e “por insuficiência cardíaca”, além de serem descritas se forem relacionadas à valvopatia e/ou ao procedimento. A otimização de sintomas e qualidade de vida deve ser um objetivo central no tratamento, podendo ser avaliados pelo questionário KCCQ, também utilizado no Triluminate trial, e o Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire, com sugestão de associar medidas objetivas de funcionalidade, como caminhada de 6 minutos, e uso de acelerômetros.

A redução objetiva do grau da regurgitação tricúspide tem no ecocardiograma seu método principal de avaliação, mas a ressonância nuclear magnética também é uma opção. Os métodos de imagem são fundamentais para caracterização dos desfechos após o implante de dispositivo, e devem incluir medida do débito cardíaco pré e pós procedimento, avaliar  presença de fluxo reverso em veia hepática, que é um sinal específico de regurgitação clinicamente significativa, avalição de tamanho, função de ventrículo direito e acoplamento ventrículo-pulmonar, devido possibilidade a ser explanada de remodelamento reverso; e níveis de biomarcadores circulantes, que ainda não possuem significância tão bem estabelecida quanto na disfunção do ventrículo esquerdo.

Sobre desfechos de segurança, a necessidade de reintervenção não planejada, ocorrência de complicações agudas ou crônicas, como embolização ou leak paravalvar, respectivamente, injúria miocárdica e complicações relacionadas ao acesso devem ser descritas e caracterizadas dentre os diferentes graus de importância que Hahn detalha no artigo.

A ocorrência de sangramento, como em todo trial de cardiopatia estrutural, é um desfecho importante e desafiador, e os pesquisadores devem lançar mão de escalas para evitar confusões e facilitar comparações. Distúrbios de condução, eventos neurológicos, embolia pulmonar e trombose venosa também devem ser detalhados.

Essa padronização proposta pelo documento busca orientar os próximos ensaios clínicos que visem responder essas grandes lacunas de conhecimento dos pacientes com regurgitação tricúspide.

Um segundo documento da TVARC já está nos planos e se concentrará na definição mais detalhada dos desfechos e na discussão das opções de desenho dos ensaios; e aí fica o questionamento: será que em breve teremos uniformização na seleção dos pacientes, nos objetivos da terapia e sobre os resultados para terapias com dispositivos transcateter na regurgitação tricúspide? Aguardem Rebecca Hahn.

Literatura Sugerida: 

1 – Jacc State-Of-The-Art Review. Tricuspide Valve Academic Research Consortium Definitions for Tricuspid Regurgitation and Trial Endpoints. Rebecca T. Hahn et al. Vol 82 No 17, 2023.

Compartilhe esta postagem

Privacidade e cookies: Este site usa cookies. Ao continuar no site você concorda com o seu uso. Para saber mais, inclusive como controlar cookies, veja aqui: Política de cookie

As configurações de cookies deste site estão definidas para "permitir cookies" para oferecer a melhor experiência de navegação possível. Se você continuar a usar este site sem alterar as configurações de cookies ou clicar em "Aceitar" abaixo, estará concordando com isso.

Fechar