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Valva Bicúspide

Ser atleta pode agravar?

A válvula aórtica bicúspide (VAB) é a condição cardíaca congênita mais comum na população geral (0,5-2%), assim como em atletas competitivos. As complicações mais temidas desta patologia são a disfunção valvar e a dilatação da aorta ascendente, aumentando o risco de dissecção da aorta e morte súbita. Como o exercício físico pode aumentar a tensão na parede da aorta, acredita-se que ele possa favorecer sua a dilatação e consequente dissecção. Contudo, a literatura é escassa no que tange dados objetivos relacionando o exercício físico intenso com piores desfechos cardiovasculares em atletas com VAB. Assim, um estudo interessante teve como objetivo determinar a prevalência e as características de valva aórtica bicúspide em atletas de elite e analisar o efeito a longo-prazo do exercício de alta performance nas aortas destes atletas.

Para isto, os autores compararam um grupo de atletas de elite com VAB com 2 grupos controle: o primeiro grupo foi composto de atletas de elite com valva aórtica normal, ou seja, tricúspide (VAT) e o segundo grupo de pacientes com VAB que não eram atletas, todos os grupos com n=41. Foi feita uma avaliação ecocardiográfica dos pacientes, onde foram analisados: a morfologia da valva aórtica, a confirmação do diagnóstico (visualização de 2 cúspides no eixo curto), o maior diâmetro aórtico, medidas diastólicas finais da aorta, regurgitação/estenose aórtica (com ecocardiograma Doppler) e a dilatação da aorta (classificação baseada no Z score). Para o seguimento, 16 atletas com BAV foram acompanhados, com média de tempo de seguimento de 10,6 anos.

Dos 5136 atletas incluídos na população do estudo, somente 41 apresentaram BAV, resultando em uma prevalência de 0,8%, semelhante à população geral, e houve prevalência masculina com razão 5:1. A maioria dos atletas (58,5%) praticava esportes com componente dinâmico alto, e nenhum atleta VAB tinha HAS, DM, dislipidemia ou tabagismo. 

Ao comparar os homens atletas (VAB e VAT) com não-atletas, observou-se uma diferença quanto ao diâmetro das câmaras AE, VE e AD, encontrando-se aumentadas nos atletas. Nenhum evento cardiovascular foi reportado nos atletas VAB. Já quanto à regurgitação aórtica, houve uma maior taxa de ocorrência no grupo BAV não-atleta (83,9%) comparado ao grupo BAV atleta (64,6%), sem diferença quanto à severidade. Além disso, o tamanho da porção ascendente proximal da aorta, seio de Valsalva e na junção sinotubular foram maiores nos grupos com VAB (atleta e não-atleta) comparado ao grupo com VAT. No período de acompanhamento dos atletas com VAB, somente a porção ascendente proximal da aorta teve um aumento de diâmetro neste período, com significância clínica leve e variabilidade interindividual alta. Não houve mudança na regurgitação aórtica, nem complicações cardiovasculares durante este período.

Atualmente, as recomendações de guidelines sugerem que atletas com VAB e aortas dilatadas leve a moderadamente podem competir somente em esportes de leve ou moderada demanda cardiovascular. Contudo, os dados deste estudo sugerem que a prática de exercícios possui uma baixa implicação clínica no que tange a degeneração valvar e o tamanho da aorta de atletas com VAB, abrindo a possibilidade para um olhar mais individualizado para esses atletas. Em paralelo a isso, reforça-se a necessidade de mais estudos sobre o tema, especialmente aqueles com acompanhamento longitudinal, bem como a importância do acompanhamento com ecocardiograma seriado.

Literatura Sugerida: 

1 – BORAITA, A., et al. Bicuspid aortic valve behaviour in elite athletes. European Heart Journal-Cardiovascular Imaging, v. 20, n. 7, p. 772-780, 2019.

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