Em diversas publicações encontramos a correlação entre doenças valvares e determinado uso de substâncias diversas, como os anorexígenos na valvopatia aórtica.
Embora muito negligenciada na prática clínica diária, outras classes medicamentosas poderiam levar a alterações estruturais dos aparatos valvares e ocasionar repercussões diversas.
O uso da Carbegolina, um agonista dopaminérgico que é uma das alternativas no tratamento da doença de Parkinson traz na literatura diversos relatos sobre o uso dessa medicação induzindo um possível efeito fibrótico tanto dos folhetos, quanto do aparato subvalvar mitral.
Do ponto de vista histológico, essas alterações levam a arquitetura que lembra a síndrome carcinóide, criando a narrativa que essa alteração estrutural seja mediada pelo sistema serotoninérgico que ativa receptores presentes nas válvulas, intimamente relacionados ao processo de mitogênese e proliferação de fibroblastos.
Uma grande avaliação populacional comparou um grupo de pacientes portadores de doença de Parkinson e que tomavam carbegolina com pacientes sem o uso desse medicamento e encontrou que a administração da medicação elevava o risco de desenvolvimento da valvopatia. A prevalência, inclusive era próxima aos grupos de pacientes que usavam inibidores de apetite, como encontrado em outras publicações anteriores de outras valvopatias.
A dose utilizada também se correlacionava ao grau de acometimento de disfunção valvar, demonstrando uma correlação bem próxima da linear.
Dentro desse contexto uma avaliação da área do tenting mitral foi utilizada como rastreio de pacientes com maior risco de desenvolver acometimento valvar. Nos pacientes que usavam carbegolina, a área do tenting aumentava proporcionalmente a maior intensidade da doença valvar e mesmo naqueles sem regurgitação, essa área do tenting foi maior do que o grupo controle.
Aparentemente esses pacientes estariam em maior risco de desenvolver acometimento valvar e o rastreio ecocardiográfico com a avaliação da área do tenting mitral poderia ser uma ferramenta útil no screening daqueles que possam evoluir com fibrose tardia do aparato valvar mitral. Seria isso já uma boa justificativa para interromper o uso dessa medicação? Ainda não temos essa resposta…