Valor dos sinais Clínicos
No atual momento em que vivemos, diversos métodos diagnósticos estão sendo aplicados às mais diversas doenças valvares com o objetivo de melhor compreender a evolução natural dessas patologias.
Baseado nos guidelines, as indicações de intervenção nas valvopatias, de forma geral, ficam restritas a presença de sintomas e/ou repercussão hemodinâmica severa, principalmente com queda na fração de ejeção.
Com o objetivo de estratificar o risco desses pacientes de forma mais precoce e sensível, diversas ferramentas são postas a prova e a coorte mais estudada até o presente momento é a estenose aórtica. Hoje sabemos que alguns outros parâmetros que não apenas a presença de sintoma e queda na fração de ejeção deveriam ser levados em consideração para indicar uma intervenção mais precoce e mais no momento certo.
Seguindo essa linha de raciocínio, todos as informações que o médico conseguir coletar do paciente e que possa lhe auxiliar nessa longa jornada de adequada estratificação e compreensão da fase da doença que o indivíduo se encontra é valiosa e não pode ser desperdiçada. Principalmente as de baixo custo e mínima invasividade.
Assim o exame físico é o protótipo ideal de fonte de informações e na insuficiência aórtica, parece que alguns detalhes do exame físico podem ser muito valiosos nessa tarefa.
Como é de ciência, pacientes com insuficiência aórtica importante apresentam queda na pressão arterial diastólica, apresentando uma pressão divergente. Indivíduos com pressão diastólica abaixo de 70mmHg eram considerados com valores reduzidos e estariam correlacionados a maior gravidade da lesão e pior evolução clínica. Essa progressão de gravidade foi vista até valores de 55mmHg.
Indivíduos com pressão arterial diastólica acima de 85mmHg também apresentam maior mortalidade, mas provavelmente pelo impacto negativo de uma hipertensão arterial sistêmica não controlada.
Outro dado interessante no exame físico é a frequência cardíaca. Valores elevados no repouso acima de 60bpm estavam correlacionados a desfechos negativos nos pacientes portadores de insuficiência aórtica importante. A leitura desse achado se deve mais provavelmente a descompensação hemodinâmica e ativação do sistema nervoso autônomo.
No entanto esses são parâmetros muito influenciados por outros aspectos e doenças que podem modificar a leitura adequada. Portanto, se guiar cegamente por esses achados no exame físico pode ser arriscado.
A avaliação ecocardiográfica durante o exercício físico poderia trazer mais algumas informações interessantes do comportamento hemodinâmico desses indivíduos. Além disso, análises da deformação miocárdica, níveis séricos de peptídeos natriuréticos e outros testes invasivos também poderiam trazer informações, mas deixamos assim de lado a premissa inicial, de ser não invasivo e de baixo custo.
O que vemos é uma corrida constante com o objetivo de elevar de sobremaneira a sensibilidade dos métodos diagnósticos para acharmos o trigger exato de indicar uma intervenção. Tomemos cuidado apenas para não indicarmos antes do momento…
Literatura Sugerida: Chambers J. Aortic Regurgitation: The Value of Clinical Signs. J Am Coll Cardiol. 2020 Jan 7;75(1):40-41.
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