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Febre reumática

Febre reumática

Mortalidade em mulheres e jovens?

A Doença Cardíaca Reumática (DCR) é uma sequela da Febre Reumática Aguda, que, historicamente, causa grandes impactos na saúde pública. No século 20, com o advento da Penicilina, esta condição foi praticamente erradicada em países desenvolvidos. Entretanto, nos dias atuais ainda se figura como um grave problema de saúde em países de baixa e média renda.

Somado a isso, a escassez de dados e a carência de estudos recentes acerca da morbimortalidade da DCR nestes países impossibilita o planejamento de uma intervenção adequada, refletindo-se em números que apontam um total de 275 mil mortes a cada ano.

Em 2016, foi publicado na revista Circulation o primeiro estudo realizado em países de baixa e média renda da África e da Ásia: “The REMEDY Study“. Trata-se de um estudo de coorte prospectivo, multicêntrico e internacional, que acompanhou 3.343 pacientes com diagnóstico clínico e ecocardiográfico de DCR, por um período de dois anos (2010-2012), em 25 centros de 14 países.

Para isso, os autores coletaram dados clínicos, demográficos e ecocardiográficos no início do estudo e acompanharam a ocorrência de resultados adversos, uso de profilaxia antibiótica secundária, uso de anticoagulante oral e necessidade de intervenção valvar ou cirurgia.

 Nesse estudo, a alta taxa de mortalidade chamou atenção, com um total de 500 mortes (16,9%) em 2 anos de acompanhamento, principalmente ao considerarmos a idade média das mortes relatadas, de 28,7 anos, reforçando o significativo DALY (“Disability Adjusted Life Years” – Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade) da doença principalmente em jovens e crianças. A insuficiência cardíaca congestiva e o AVC ganharam destaque como complicações mais comuns, acometendo quase 50% dos participantes.

The REMEDY Study revelou ainda, de acordo com os registros dos 25 centros hospitalares analisados, que apesar de o sexo feminino estar relacionado a menor risco de morte, este apresentou maior acomentimento por Doença Cardíaca Reumática (66,2%), em comparação com o sexo masculino. Essa proporção torna-se ainda mais significativa quando relacionada às mulheres jovens, desempregadas e em idade fértil de países de baixa (86,5%) e média (90,3%) renda.

Os impactos da Doença Reumática Cardíaca também se refletem na gestação, causando aumento dos riscos, o que a torna a maior causa não obstétrica de morte materna na África. Das mais de 1800 mulheres que participaram do estudo, apenas 3,6% possuíam algum conhecimento sobre anticoncepção ou faziam o uso de algum método contraceptivo, dado que reflete a ausência de planejamento familiar e aconselhamento pré-natal para mulheres com doenças cardíacas em regiões subdesenvolvidas.

Por fim, este estudo ainda evidenciou a discrepância nos tratamentos disponíveis em países de baixa e média renda, quando comparado com países de alta renda, nos quais os índices de tratamento definitivo envolvendo valvoplastias e outros tratamentos cirúrgicos chegam a ser de duas a três vezes maior.

Apontamentos

  • A faixa etária jovem (em média 28 anos) dos pacientes acometidos pela DCR chama a atenção para o prejuízo social e financeiro da doença e seu significativo DALY.
  • A educação em saúde em conjunto com profilaxia secundária demonstrou-se eficientes na prevenção de complicações da DCR que corroboram na redução da taxa de mortalidade principalmente se iniciada nos primeiros estágios da doença.
  • A incidência da FR é maior em mulheres em idade fértil, apesar de sua mortalidade ser menor nesse gênero
  • A falta de conhecimento e/ou do uso de métodos contraceptivos é alarmante e evidencia o baixo nível de escolaridade, bem como a ausência de planejamento familiar e aconselhamento pré-natal para mulheres com doenças cardíacas em países de média e baixa renda.
  • Ainda não se sabe especificamente o que leva ao maior acometimento da DCR no sexo feminino, acreditamos que o contato prolongado com os filhos e uma maior presença do gene HLA são fatores que contribuem para esse desfecho.

Literatura Sugerida: 

1 – Zühlke, Liesl et al. “Clinical Outcomes in 3343 Children and Adults With Rheumatic Heart Disease From 14 Low- and Middle-Income Countries: Two-Year Follow-Up of the Global Rheumatic Heart Disease Registry (the REMEDY Study).” Circulation 134,19 (2016): 1456-1466. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.116.024769

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