O que ainda falta para sua erradicação?
A Febre Reumática consiste em uma doença crônica decorrente de uma complicação não supurativa da faringoamigdalite estreptocócica, marcada pela resposta imune tardia a esta infecção em pessoas geneticamente predispostas. Seu agente causal é o Estreptococo Beta Hemolítico do Grupo A de Lancefield (Streptococcus pyogenes), que acomete principalmente crianças e adultos jovens.
A febre reumática está relacionada a países subdesenvolvidos, onde prevalecem condições de pobreza, falta de saneamento e de informação sobre a doença, tendo grande impacto no sistema de saúde público devido aos altos gastos.
Historicamente, com os avanços socioeconômicos e o advento da penicilina G no tratamento da faringite estreptocócica no final do século XX, a febre reumática chegou próximo de sua erradicação, principalmente em países desenvolvidos. Entretanto, a literatura atual aponta que esta doença ainda é muito prevalente em alguns continentes, com destaque para Oceania, Sul da Ásia e a parte central da África Subsaariana, onde notam-se baixos índices de desenvolvimento socioeconômico, bem como altos índices de pobreza.
Em agosto de 2017, uma publicação feita no “The New England Journal of Medicine” a “Global, Regional, and National Burden of Rheumatic Heart Disease, 1990–2015”, realizou uma revisão sistemática da literatura utilizando metaregressão para combinar dados a respeito da distribuição da incidência, prevalência e mortalidade por doenças cardíacas causadas pela febre reumática ao redor do mundo, no período de 1990 a 2015.
Watkins e colaboradores utilizaram o indicador DALY (“Disability Adjusted Life Years” – Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade) para medir simultaneamente o efeito da mortalidade e dos problemas de saúde causados pela febre reumática e seus impactos na qualidade de vida dos indivíduos. Para seu cálculo, utiliza-se da soma dos anos de vida perdidos devido a mortalidade prematura (YLL, “Years of Life Lost”) e dos anos de vida vividos com incapacidade (YLD, “Years Lived with Disability”). Desta forma, um homem que vive 10 anos com uma incapacidade proveniente de complicações da doença e que faleceu aos 40 anos de idade quando sua expectativa de vida chegava aos 80 anos, contribui com 50 anos para a taxa de DALY (10 anos vividos de incapacidade e 40 anos de morte prematura).
Figura 1 – NUFFIELD TRUST UK. Using DALYs to understand young people’s health. Disponível em: http://nuffieldtrust.org.uk/resource/using-dalys-to-understand-young-people-s-health
Em seus resultados, apontam que até 2050 a taxa de DALY`S por Doenças Cardiovasculares evitáveis chegará a 80 milhões de anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, dos quais, apenas a Doença Cardíaca por Febre Reumática será responsável por um potencial de 10 milhões de anos. Foram registrados mais de 33 milhões de casos no mundo, e desses, cerca de 319 mil acarretaram mortes.
As maiores taxas foram registradas respectivamente na Índia, China, Paquistão, Indonésia e República Democrática do Congo. Juntos, esses países endêmicos englobam 73% dos casos registrados globalmente. O estudo aponta ainda que de 1990 a 2015 houve um aumento de 88% no número de casos de insuficiência cardíaca ligados à doença reumática.
Apesar das taxas de complicações cardíacas decorrentes da febre reumática terem diminuído principalmente em países desenvolvidos, esta doença ainda persiste em algumas das regiões mais pobres do planeta. Novas pesquisas são fundamentais para a obtenção de dados mais precisos, a fim de se elaborar políticas públicas e de controle à Doença Cardíaca por Febre Reumática que corroborem com planos para sua erradicação.
Apontamentos
Literatura Sugerida:
1 – Watkins, David A et al. “Global, Regional, and National Burden of Rheumatic Heart Disease, 1990-2015.” The New England journal of medicine vol. 377,8 (2017): 713-722. doi:10.1056/NEJMoa1603693
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