Agora vamos para uma parte mais decisiva, a abordagem terapêutica após definirmos o diagnóstico clínico-laboratorial.
Tratamento
O essencial do tratamento da febre reumática não é o tratamento em si da patologia e sim a antibioticoterapia para a erradicação da cepa reumatogênica da orofaringe do indivíduo.
Essa é, sem dúvidas, a medida mais eficaz, pensando em saúde pública, pois evita a propagação e elevação dos casos na comunidade. No entanto, a abordagem ao paciente já acometido passa por prescrição de sintomáticos e suporte intensivo, quando necessário. O tratamento específico nos casos de cardite aguda grave existe, mas tem embasamento científico algumas vezes questionado.
A hospitalização do indivíduo com febre reumática aguda deve ocorrer apenas em casos de cardite moderada ou grave, artrite incapacitante e coréia limitante e grave. De forma geral, o repouso está indicado por um período de 4 semanas sendo o paracetamol e a dipirona as escolhas para o controle térmico do paciente. O uso de AINES e mais especificamente o AAS não é aconselhado até a confirmação diagnóstica, mas uma vez definido, pode entrar no arsenal terapêutico sintomático.
A artrite tem o tratamento bem definido com o uso de AINES, sendo o AAS em doses antinflamatórias a primeira escolha (100mg/kg/dia). O Naproxeno é a alternativa em casos em que se busca evitar uma possível síndrome de Reye. A resposta é excelente em 24-48 horas de tratamento.
A coreia deve ser acompanhada de perto e em casos leves, apenas o repouso é o suficiente. Casos mais graves tem indicação de uso de anti-psicóticos e anti-convulsivantes como Haloperidol, ácido Valpróico e Carbamazepina.
A cardite é a maior preocupação nessa abordagem inicial do paciente, visto ser a única capaz de levar o paciente a óbito. Diante disso, recomenda-se o uso de corticoterapia oral nos casos de cardite moderada a grave, sendo a prednisona a primeira escolha. Casos refratários podem necessitar de pulsoterapia com uso de metilprednisolona (30mg/kg/dia) em ciclos semanais intercalados.
A suspensão precoce desses fármacos pode levar a rebotes ou recidivas, devendo esse desmame ser cauteloso e escalonado. Associado a isso, o tratamento de suporte com vasodilatadores e diuréticos é fundamental para atravessar a fase de descompensação, inclusive com suporte intensivo quando necessário.
Nesse momento cirurgias valvares devem ser evitadas, devido ao quadro agudo e possibilidade de estruturas valvares friáveis. Além do mais, é necessário o processo inflamatório cessar para compreendermos a real repercussão hemodinâmica final da valva acometida.
O maior impacto negativo na curva de sobrevida não está na fase aguda da febre reumática, mesmo com quadros graves de cardite, mas sim nas sequelas valvares que essa cardite pode causar. Nesse caso, o tratamento se direciona para a valvopatia em questão e sua exata repercussão e você, leitor, pode conferir nas últimas temporadas do Valve Basics que falaram sobre Valvopatia Aórtica, Valvopatia Mitral e Valvopatia Tricúspide. Lá você encontra todos os aspectos necessários a se compreender para uma adequada indicação de intervenção em uma valvopatia reumática crônica.
Literatura Sugerida:
1 – Braunwald, Eugene. Tratado de medicina cardiovascular. 10ª ed. São Paulo: roca, 2017. v.1 e v.2.
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