A ecocardiografia avançou bastante com o aprofundamento do estudo nos pacientes portadores de cardiopatia estrutural. Sem sombra de dúvidas, a estenose aórtica foi o motor propulsor de toda essa revolução com o advento da TAVI, terapia transcateter que mudou a forma como a qual os clínicos tratam a estenose aórtica que acompanham em seus consultórios.
No entanto, a realização da ecocardiografia ainda encontra dificuldades técnicas, seja por aparelhos mais adequados, seja por profissionais capacitados, visto que a avaliação valvar, dentro da competência do especialista em ecocardiografia configura como um dos maiores desafios do dia a dia.
O uso da equação de continuidade e a avaliação das repercussões hemodinâmicas, bem como a análise dos tempos e formatos dos fluxos é necessária para uma abordagem inicial de uma suspeita de estenose aórtica. Dentro desse contexto, em áreas em que o profissional da imagem não está disponível, o uso da inteligência artificial poderia ser uma ferramenta válida para uma estratificação inicial?
Baseado em imagens obtidas por seres humanos, o uso de algoritmos de inteligência artificial foi capaz de encontrar dados como velocidade máxima de jato aórtico, gradiente médio baseado na VTI aórtica e também de stroke volume com uma correlação sempre acima de 0,80 quando comparado com a avaliação completa do ser humano.
Também ja encontramos um algoritmo de IA que usava características fenotípicas como FEVE, função diastólica e velocidade máxima aórtica extraídos de relatórios de ecocardiografia que classificavam corretamente 95,3% dos pacientes com EA grave contra o padrão ouro avaliado pela equação de continuidade.
Além da validação com exames realizados em centros especializados, esses resultados já se mostraram como bons preditores de desfechos, o que traria também em algum grau, uma validação clínica dos dados analisados.
Embora esses algoritmos ainda necessitem de uma aquisição e imagens através da mão humana, a avaliação posterior pode ser realizada em software específico que poderia, inclusive, ser adicionado ao sistema POCUS o que ampliaria substancialmente a possibilidade de adequados diagnósticos de estenose aórtica em locais com indisponibilidade de profissionais mais capacitados.
E um dado interessante desses achados é que o ponto mais vulnerável do uso da inteligência artificial é bem semelhante ao que encontramos com o ser humano, a medida adequada da via de saída do ventrículo esquerdo que se feito de forma acurada, poderia resolver muita limitação do método. E ainda, o algoritmo de IA utiliza todos quadros de todos os arquivos de vídeo disponíveis para gerar um valor, enquanto o usuário humano mede a partir de uma avaliação visual única de um quadro considerado mais adequado.
O futuro vai nos trazer todas essas atualizações e certamente teremos a incorporação de outras variáveis como densidade de cálcio valvar, relação de velocidade de fluxos e aceleração, ou seja, a inteligência artificial vai ser um casamento perfeito com a ecocardiografia.